A prostituição, segundo Ana Lopes, antropóloga doutorada na Universidade de East London e ex-trabalhadora do sexo, continua a ser a “caixa de Pandora” da sociedade, que o movimento feminista tenta manter fechada e invisível.

“Assim, não são levantadas discussões para as quais não há consenso dentro do feminismo”, explica a autora do livro “Trabalhadoras do sexo, uni-vos!” (2006) explica que muitas feministas do século XXI continuam a ver as prostitutas como vítimas que precisam de ser salvas. Uma ideia errada, segundo a especialista, que defende que “os profissionais do sexo querem apenas que as pessoas respeitem as suas escolhas”.

Ana Lopes defende que a discriminalização da prostituição diminuiria a exploração sexual porque “a actividade deixaria de ser tão atractiva para os elementos criminais e para os traficantes”.

Afirma que é necessário “levantar o debate sobre a indústria do sexo, para tentar mudar as mentalidades em Portugal e encorajar os profissionais do sexo que aqui trabalham a lutarem pelos seus direitos”. A autora revela o atraso de Portugal em relação a outros países da Europa, no que diz respeito ao debate sobre a prostituição.

A criadora do primeiro sindicato de trabalhadores do sexo, o IUSW (Internacional Union of Sex Workers) revela ainda que se fossem retiradas as leis que criminalizam a prostituição, aqueles que nela trabalham teriam a protecção das forças policiais como qualquer outro cidadão e direitos laborais. Tal já acontece em países como a Holanda, a Alemanha, a Nova Zelândia e a Austrália.

São vários os obstáculos que se colocam ao desenvolvimento das organizações de profissionais do sexo e “a maior parte deles vem do facto da indústria do sexo ser clandestina”, diz. Por outro lado, esta é uma indústria organizada de tal forma que há imensa competitividade, que não encoraja as pessoas a unirem-se, a juntarem-se e a discutirem os seus problemas”.