A fila indiana para buscar castanhas de borla esconde a entrada escura e discreta da Liga Portuguesa de Profilaxia Social, no Porto. É uma sexta-feira de Novembro fria. Faltam 20 minutos para as 15h00 e o fumo do assador de castanhas confunde o nevoeiro da rua de Santa Catarina.

Ultrapassada a barreira feita pela fila indiana, é preciso seguir as setas que indicam a entrada. São três pisos ligados pelas escadas de madeira. A paragem é no segundo andar. A campainha não funciona, só a madeira da velha porta a que é preciso bater. Quem abre é Edite Silva, secretária e a responsável pela ponte entre a equipa técnica e a direcção da Liga.

“Os técnicos devem estar mesmo a chegar. Hoje a saída é até Valongo. Às sextas-feiras à tarde a carrinha vai ter com as utentes que têm vida familiar, muitas delas com filhos e companheiro. É a saída que exige mais confidencialidade”, explica.

Os técnicos chegam atrasados e a saída não foi a Valongo. “É melhor ficar para a semana, já é tarde para ir a Valongo, fazemos a viagem pelo Porto”, diz Sara Aguiar, a psicóloga voluntária do projecto Vamp (Viatura Móvel de Apoio à Prostituição).

Antes da Vamp arrancar, há que verificar se está tudo pronto para receber as utentes: preservativos, água, café, chá, bolachas, entre outros items. Durante a viagem, a psicóloga Sara Aguiar, voluntária da Liga há um ano, descreve como se realiza o contacto entre os técnicos e as utentes: “Umas sabem que a carrinha existe, porque são avisadas pelas outras utentes. Outras vezes, somos nós que fazemos o primeiro contacto, principalmente quando são imigrantes. Em algumas situações, as utentes rejeitam desde logo, mas noutras esse contacto é fácil.”

Têm utentes assíduas, as quais já conhecem, sabem o nome e com quem ficam à conversa às vezes “quase uma hora”. Na carrinha Vamp, as utentes, que fazem da prática do sexo profissão (a tempo interno ou em part-time) procuram preservativos. “Muitas vêm só pelos preservativos e ponto final; outras vêm tomar um café e conversar um bocado, desabafam e procuram apoio para casos mais complicados que tenham”, conta Sara Aguiar.