17h30. É hora de partir para a próxima paragem da carrinha Vamp. Faz mais frio, mas o jardim ainda está movimentado. Mal a porta lateral da carrinha abre, aparecem duas mulheres a reclamarem do trabalho: “Está mau, não se trabalha”.

Emília, mais desconfiada e experiente, já está na rua há 12 anos, enquanto que a colega está “há cerca de dois anos”. Emília vive com o namorado, mas reclama do negócio: “Há 15 dias que estou aqui e não se faz nada, há semanas que só faço duas visitinhas”.
Emília diz que tem três filhos “já casados” que sabem da sua actividade. Pretende deixar a rua um dia, mas afirma que nem rendimento mínimo tem.

Enquanto puxa um cigarro, Isabel queixa-se, indignada, de um cliente que queria ficar com ela uma hora no quarto por dez euros.

Fernanda tem 53 anos e distingue-se das outras utentes pelo seu cabelo loiro-pintado e vestir um casado com padrão de tigre. Diz, em voz baixa, não ser como as outras: não fala mal, não fuma e é meiga.

Vem todas as sextas-feiras à carrinha buscar preservativos, falar e tomar um café com os técnicos. Fernanda diz e prova que é funcionária de recursos humanos, mostrando o cartão da empresa para a qual trabalha. Está na rua há um ano, porque a empresa, onde trabalha há 25 anos, dispensou-a das tardes e, por isso, arranjou “este extra”.

“Estou com gente importante”

É um entra-e-sai constante com muito café e bolachas à mistura. Passados uns minutos o movimento diminui, fica só Cassandra sentada na cadeira. Tem apenas 22 anos de idade e já uma filha de sete.

Começou a consumir drogas aos 11 anos de idade e aos 15, quando teve a filha, entrou para a prostituição: os pais deixaram de dar dinheiro e Cassandra precisava de consumir. É casada, o marido também é toxicodependente, sabe o que Cassandra faz e não gosta. A jovem frequenta o CAT de Cedofeita. Espera, tal como o marido, o internamento.

Cassandra fala com um brilho nos olhos como se estivesse entre amigos. “Eu estou bem, estou com gente importante: tenho aqui uma jornalista que me está a ouvir e uma psicóloga que trata de mim”, diz a rir. A criança, também chamada Cassandra, que cresceu e brincou com meios à margem da sociedade, tinha, como todas as outras crianças, um sonho: “Ser actriz ou juiza. Eu tinha era que ter juízo na cabeça!”.