Entrar, hoje, num infantário já não é como há uns anos atrás. Antes era entrar e seguir o barulho das muitas crianças até às várias salas repletas. Agora é quase preciso procurar sala a sala para encontrar crianças.
Às 11h30 de uma segunda-feira, um infantário da Praça da República, bem no centro do Porto, não tinha mais do que 20 crianças, divididas pelas turmas dirigidas aos vários pontos de aprendizagem. Clara Costa, educadora de infância, a trabalhar nesta creche desde que acabou o curso, compara os números actuais com os de há uma década atrás e conclui que a taxa de ocupação está reduzida a menos de metade.
A crise está à vista de todos, mas os dados da Associação Portuguesa de Demografia confirmam o cenário. Se em 1970 cada casal tinha em média quase cinco filhos, hoje essa mesma média não passa dos 1,38.
Segundo o último comunicado da APD, “faltam 165 bebés por dia para equilibrar as contas nacionais”, tarefa que se afigura muito difícil para um futuro próximo. O Governo e as autarquias estão a implementar políticas de incentivo à natalidade.
Ana Aroso, médica obstetra e uma das maiores especialistas nacionais na área da Natalidade em Portugal, sublinha os dados da Associação Portuguesa de Demografia e critica os que culpam a emancipação da mulher por este decréscimo da natalidade.
Clara Costa não tem dúvidas dos motivos que levam os pais a construir uma família mais pequena do que há uns anos atrás. “O custo de vida elevado que nos rodeia hoje em dia é o que faz com que as famílias sejam mais pequenas. Mesmo aqui no infantário, em conversa com os pais, nós vemos que para poderem dar tudo a uns, como ballet, natação ou inglês, os pais têm que abdicar de ter mais filhos. Se não com que dinheiro é que iam pagar a educação de mais crianças?”.
Ana Aroso considera que é possível inverter esta situação, mas não nos tempos mais próximos. A crise no sector da educação pré-escolar parece, então, estar para durar mais alguns anos, o que leva ainda mais infantários a atingir taxas de ocupação muito baixas e faz com que alguns tenham mesmo que acabar por fechar as portas.