A Ordem dos Arquitectos (OA) pede maior esclarecimento sobre o que a empresa TramCroNe vai fazer no Mercado do Bolhão e quer que a Porto Vivo – Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) promova um debate com várias entidades para que se chegue a uma solução para um edifício que faz parte da “memória colectiva e da identidade” dos portuenses, afirmou ao JPN o vice-presidente da Secção do Norte da Ordem, Luís Tavares Pereira.

Em comunicado, a secção afirma que, “perante as dúvidas e objecções que publicamente se levantam, perante as condições precárias do seu actual funcionamento e perante a urgência de uma intervenção qualificadora do edifício e da vida urbana que potencialmente gera”, “a informação disponibilizada não é suficientemente elucidativa e objectiva de molde a suscitar o debate público e técnico esclarecido, que permita confirmar ou melhorar estratégias de actuação para o Mercado do Bolhão”.

“O próprio vereador do Urbanismo [da Câmara do Porto] afirmou que ainda não há projecto. É o momento oportuno para discutir”, afirma o dirigente, em declarações ao JPN, salientando que o Conselho Consultivo da SRU, onde estão nomes como Nuno Grande, Siza Vieira e os historiadores Germano Silva e Hélder Pacheco, deve “ter uma participação mais activa” neste processo.

Debate com IPPAR, Ordem e faculdades

“É fundamental que seja a SRU a organizar este debate. A obra pertence à SRU”, diz, salientando a disponibilidade da secção regional trabalhar com a Porto Vivo tendo em vista a “salvaguarda de um património arquitectónico de relevo”.

No entender do arquitecto, o modelo de concurso público lançado pela SRU (concepção e exploração do Bolhão) “limita à partida as possibilidades de alternativas”. A possibilidade de formar “equipas multidisciplinares” “seria muito mais interessante para este e outros casos com uma natureza sensível”, advoga.

Agora que a Assembleia Municipal do Porto já aprovou a proposta da TramCroNe, os arquitectos pedem um debate esclarecedor sobre o tema, que envolva entidades como o IGESPAR (antigo IPPAR), a OA e as faculdades de Arquitectura (em particular a da Universidade do Porto, que, em 1992, elaborou um estudo sobre o mercado com vista à preparação do concurso público de arquitectura então realizado), entre outras.

Ordem não comenta proposta

Luís Tavares Pereira não comenta o que já se conhece da proposta da TramCroNe, que passa pela construção de dois pisos e pela demolição (inevitável para rentabilizar o investimento de 50 milhões de euros, segundo a empresa) de parte do interior do Bolhão.

“Não nos podemos pronunciar perante uma descrição. Um projecto é muito mais do que uma simples descrição. Não temos preconceitos contra as preocupações de rentabilizar [o espaço]”, refere, lembrando que a OA não tem “nenhuma autoridade enquanto avaliadora de projectos”. “Podemos ser mediadores, mas não pronunciarmo-nos directamente sobre projectos”, elabora.

“As mesmas ideias podem dar bons ou maus projectos. Há sempre coisas que os edifícios ganham e perdem. O importante, nesta fase, é que haja contributos, para que isto não seja um projecto que se passa à margem”, diz.

Reconhecendo que é necessário “acertar o passo do edifício com o tempo [moderno]”, Tavares Pereira rejeita visões a “preto e branco”, sustentadas numa suposta incompatibilidade entre rentabilidade e preservação da memória. É um “equilíbrio crítico”, mas possível, sustenta.