A Assembleia Nacional do Poder Popular elegeu, este domingo, Raúl Castro, como o novo presidente do Estado cubano. Raúl Castro vai suceder no cargo de chefe do Conselho de Estado ao seu irmão, Fidel Castro, que esteve 49 anos à frente do destino de Cuba. Mais de 600 deputados votaram por unanimidade a favor da lista única composta por 31 nomes.

Raúl Castro assume em definitivo um cargo que ocupava desde Junho de 2006, altura em que Fidel Castro se afastou devido a problemas de saúde. José Ramon Machado, outra figura histórica do regime, foi nomeado como vice-presidente. A escolha de Machado é a grande surpresa ao deixar de fora um dos favoritos à corrida pela chefia, Carlos Lage.

Mudanças na continuidade

Os novos membros do Conselho de Estado constituem uma novidade, mas não uma mudança no rumo da ilha. Raúl Castro pretende consultar o seu irmão “nas decisões de grande importância para o destino da nação”. O novo líder assume a responsabilidade que lhe foi confiada com a convicção de que o comandante-chefe da revolução cubana é “único”. “Fidel é Fidel e como todos sabemos, Fidel é insubstituível”.

Carmen Fonseca, especialista em Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, considera “previsível a transição de um Castro para outro Castro até porque Raúl tem estado nos últimos meses à frente de Cuba”. A professora não acredita, apesar da mudança de líder, “em mudanças significativas a curto prazo” devido “à influência do irmão”.

Raúl Castro prometeu tomar medidas económicas para travar a crise que afecta a população. O novo presidente não foi objectivo quanto ao teor das mudanças porque “ a supressão de certas medidas exige tempo e um estudo de fundo”. Carmen Fonseca antevê “uma maior abertura da economia que pode trazer uma situação económixca mais favorável” apesar desta mudança ser “muito restrita”.

Reacções

Hugo Chavez, presidente da Venezuela, foi o primeiro a saudar o novo chefe do regime cubano. “A transição seguirá o seu curso sempre com Fidel na cabeça” afirmou Chavez, que foi seguido no apoio ao novo governo pelo seu homólogo mexicano, Felipe Calderón.

A perita Carmen Fonseca afirma que “a eleição não foi uma surpresa a nível internacional”. Apenas os Estados Unidos terão exercido “uma pressão devido ao aproximar das eleições presidenciais, mas não devem existir alterações nas relações diplomáticas a curto prazo”. Cuba apenas poderá lutar contra o seu isolamento através de “um conjunto de medidas que fomentem a cooperação internacional”.

A secretária de Estado norte-americana, Condoleeza Rice, espera que Cuba possa mudar e “iniciar um processo de mudança democrática pacífica”. As declarações norte-americanas foram descritas como “injuriosas e abertamente intervencionistas” por parte do novo líder cubano, Raúl Castro.

Perfil do novo líder

Eterno número dois, Raúl esperou 49 anos para subir ao poder. Nascido a 3 de junho de 1931, cinco anos após Fidel, Raúl seguiu os jesuítas e estudou na Universidade de Havana antes de se opor ao regime de Fulgencio Baptista.

Um primeiro falhanço em Julho de 1953 não esmoreceu os irmãos Castro que, após terem estado presos, conheceram Ernesto “Che” Guevara. Esta ligação era o arranque para a revolução que derrubaria o regime de Fulgencio Baptista.

Desprovido dos dons oratórios do irmão, Raúl fica marcado pelas execuções que levou a cabo e pelo sua acção decisiva no comando das Forças Armadas.