A directora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), Josette Sheeran, afirmou segunda-feira, em entrevista à BBC, a possibilidade de se ter de vir a racionar a ajuda alimentar internacional. Em causa estão o aumento do preço dos cereais, nomeadamente do trigo e do milho, e a diminuição de fundos à disposição da organização das Nações Unidas.
Josette Sheeran alertou para a necessidade urgente de doações, já que “em muitos sítios o PAM é o único recurso de comida para algumas pessoas”.
Crise alimentar
A Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO, em inglês) lançou no início do mês um alerta, considerando que o aumento dos cereais está a tornar-se numa “grande preocupação global”.
Desde 1974, o preço dos alimentos têm vindo a aumentar, chegando a atingir uma subida de 40% no ano passado. O relatório divulgado pela FAO no início de Fevereiro aponta para uma subida da produção mundial de cereais em 2008, sobretudo na Europa e nos EUA, mas revela que os preços se vão manter altos, com tendência a aumentar ainda mais. Os preços do trigo a nível mundial aumentaram 83% desde 2007.
Por outro lado, os stocks de cereais têm vindo a registar os níveis mais baixos das últimas duas décadas. A forte procura e a produção excessiva em comparação com as necessidades em 2007 fizeram baixar os stocks em 5%, para o valor mais baixo desde 1982.
Preços aumentam 80% nos países pobres
O relatório Crop Prospects and Food Situation alertou também para a crise alimentar que afecta 36 países em todo o mundo, que têm missões de ajuda internacional, 21 dos quais se situam no continente africano, nove no continente asiático e quatro pertencentes à América Latina.
Em alguns países em vias de desenvolvimento o preço dos produtos alimentares essenciais subiu 80%, segundo a responsável do PAM.
A importação de cereais pelos países pobres em 2008 vai diminuir 2% em volume, mas a factura das importações vai aumentar mais de um terço este ano (35%), em média. Em África este valor vai chegar aos 49%, segundo o relatório da FAO.
Alguns governos exportadores e importadores de cereais tomaram medidas de forma a diminuir o impacto do aumento dos preços nos alimentos, aumentando os subsídios alimentares e diminuindo as tarifas de importação.