São 11h50 no mercado do Bolhão. Quase uma centena de comerciantes prepara-se para uma longa viagem até ao Parlamento, em Lisboa. Na bagagem levam uma petição com 50 mil assinaturas e a esperança de que o mercado de comércio tradicional não passe para o domínio privado da empresa holandesa TramCroNe.

O ambiente apelava à seriedade, mas foi a animação que reinou. Aquando da partida dos autocarros os populares acenavam com lenços, como se de uma celebração religiosa se tratasse.

Cronologia:

1837 – Inicia-se o projecto de construção

1850/51 – Início da construção das barracas de venda

1914/1917 – Construção do Mercado do Bolhão

1992 – É pensada a reabilitação do mercado

1996 – É criado o gabinete de estudos do Bolhão

1998 – Apresentado projecto de manutenção do mercado

2008 – Aprovação do projecto da empresa holandesa TramCroNe.

Em Lisboa, o circo mediático esperava os manifestantes que reclamavam a não demolição do interior do Bolhão. Durante quase duas horas a capital foi invadida pelo movimento cívico que criticava a actuação da Câmara do Porto. “O senhor presidente e o seu executivo têm pautado a sua actuação por minimizar este movimento, por minimizar as pessoas, utilizando linguagem bastante próxima do insulto”, afirmou o arquitecto Manuel Correia Fernandes, porta-voz do movimento.

Enquanto esperavam a saída dos seus mandatários, os manifestantes entoavam cânticos populares irónicos. A frase de ordem era: “Nós viemos pedir ajuda aos supremos da nação, para que não deixem morrer o mercado do Bolhão”. A opinião entre os comerciantes era unânime, “a segunda cidade do país está um caos”. Segundo Joaquim Massena, a petição entregue ainda “vai ser levada ao grupo parlamentar das autarquias para ser discutida”.

Principais reivindicações

O movimento cívico de defesa do Mercado do Bolhão reivindica a remodelação e não a demolição do edifício. Manuel Correia Fernandes considera que apesar de “não estar em risco de colapso” são necessárias obras. O porta-voz adiantou ainda que não percebe como a câmara portuense não utiliza os fundos comunitários para fazer as obras de requalificação.

O plano de remodelação da TramCroNe, aprovado pela câmara municipal, visa a demolição da parte interior do mercado do Bolhão, o acrescento de lojas e de um parque de estacionamento subterrâneo.

O Bloco de Esquerda (BE) enviou um requerimento ao ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, para intervir junto da câmara. José Soeiro, membro do grupo parlamentar do BE, critica a actuação de Rui Rio, afirmando que o presidente quer “vender a cidade aos lotes”.