A escritora de ascendência espanhola, autora de “Lisboaleipzig”, entre outros, morreu na sua casa em Sintra segunda-feira, e o corpo foi esta terça-feira levado para o cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

Maria Gabriela Llansol nasceu em Lisboa em 1931, e é considerada um caso ímpar na ficção portuguesa contemporânea. Licenciou-se em Direito e em Ciências Pedagógicas, mas em 1965 exilou-se para a Bélgica durante 20 anos, onde escreveu aquela que é considerada uma das suas obras mais importantes, “O livro das Comunidades”, de 1977.

É autora de inúmeras obras, tais como “Os pregos na erva”, “A restante vida”, “Um beijo dado mais tarde”, vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (APE), “Lisboaleipzig” e “Amigo e Amiga”.

Llansol dedicou-se também à tradução de autores como Rilke, Rimbaud, Baudelaire e Paul Éluard. O seu novo livro, “Amar um Cão”, acaba de ser lançado e inclui desenhos do seu marido, recentemente falecido, Augusto Joaquim.

Reconhecimento aquém da qualidade

Baptista Lopes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores e Livreiros (APEL), afirmou ao JPN que a escritora era “indiscutivelmente uma das autoras de língua portuguesa com maior qualidade do século passado, e deixa-nos uma obra de grande registo”.

“Era uma pessoa de grande sensibilidade, muito reservada e talvez essa faceta não lhe tenha permitido ser uma autora de grande reconhecimento público”, referiu Baptista Lopes.

O presidente da APEL está convencido que o reconhecimnto do trabalho de Maria Gabriela Llansol esté muito aquém da sua qualidade literária e espera que agora “venha a ser objecto do reconhecimento pós-morte que, infelizmente, não teve em vida”.

“Reinventar a prosa em língua portuguesa”

A obra de Maria Gabriela Llansol inspirou recentemente um espectáculo de dança e cinema, intitulado “Curso de Silêncio”, uma criação conjunta do realizador Miguel Gonçalves Mendes e da coreógrafa Vera Mantero.

O realizador disse ao JPN que o trabalho da escritora é “muito particular, pouco convencional; é uma nova forma de escrever e de reinventar a prosa em língua portuguesa e isso mostra o carácter dela”. “[Ela] negava a narrativa clássica“, já que pensava que ela “nos tinha castrado e impedido o poder de imaginação”.

“Era uma trabalho à margem”, afirma Miguel Gonçalves Mendes. “Obviamente que Portugal perdeu; aliás, Portugal tem perdido nestes últimos anos uma série de pessoas brilhantes que possuia”.

Sobre a falta de reconhecimento público da escritora, o realizador acredita que a sua escrita “não é para um leitor comum, é para um leitor particular”, alegando que “cabia ao poder político ou às instituições culturais fazer sobressair o trabalho de Maria Gabriela Llansol e dá-lo a conhecer, e isso não aconteceu”.

A escritora deixa o seu espólio à Associação de Estudos Llansolianos, que desde 2006 tem estado a digitalizar e transcrever os cerca de 70 cadernos de diários e outros manuscritos escritos.