O neurocientista David Lewis estuda o cérebro há 25 anos por acreditar que existem “botões” que nos ajudam a decidir o que comprar e porquê. Tem 64 anos e é considerado o “pai do neuromarketing“. Por vocação ou intuito, evoluiu e construiu o seu próprio software e hardware pela vontade que possui de perceber o que as pessoas pensam.

Por que razão abandonou a medicina e decidiu dedicar-se à análise dos pensamentos e vontades das pessoas?

Comecei a minha vida como médico, mas depois a profissão começou a aborrecer-me. Então abandonei a medicina e iniciei uma carreira no jornalismo, como repórter da BBC. Fui enviado para o Norte da Irlanda, em trabalho, numa altura de conflitos internos, e comecei a querer perceber porque é que as pessoas se matavam umas às outras e se torturavam. E tudo começou aí.

Quando descobriu o neuromarketing?

Interessei-me pelo neuromarketing porque andava à procura de pequenos estímulos com princípio, meio e fim. O total de informação era muito para a tecnologia que usávamos. Hoje em dia, os computadores facilitam-nos muito o trabalho. Então, procurei a publicidade televisiva que ainda não tinha sido divulgada. Foi aí que descobri o marketing e a sua importância.

Neuromarketing

David Lewis e o seu busto
O neuromarketing é a análise da actividade do cérebro, através da colocação de sensores em diversas zonas do crânio.
Com a técnica da electroencefalografia (QEEG, em inglês) que lê as correntes eléctricas do cérebro, é estudado o que as pessoas sentem e pensam.
Para facilitar o registo, a empresa de Lewis (MindLab) inventou uma câmara de vídeo incorporada num par de óculos, através da qual é possível ver e ouvir o mesmo que o indivíduo analisado, em tempo real.

De acordo com palavras suas, o neuromarketing ajuda as pessoas a decidirem racionalmente e não por reflexos inatos. Qual é, para si, o produto ideal, que capta logo a atenção do consumidor?

Para mim, antes de mais, para um produto ser bem sucedido, tem de ser bastante publicitado, como, por exemplo, os da Nike ou da Coca-Cola. E já existem muitas maneiras de fazer publicidade sem gastar muito dinheiro. Temos que entender o poder da Internet hoje em dia. A televisão já não é tão tão importante como a Web. Os jovens ligam mais à Internet do que à televisão. E é a eles que os publicitários querem chegar. O neuromarketing vem ajudar neste sentido, porque torna as coisas muito simples, tentando encontrar o nicho específico do mercado a atingir.

Qual é o próximo passo?

Bom, o próximo passo penso que será desenvolver um equipamento mais pequeno, de fácil transporte, mais barato. Pois neste momento, um equipamento do neuromarketing ronda os 70 mil euros. Já estamos a trabalhar no desenvolvimento de novos softwares, mais rápidos, eficazes e muito mais baratos.

A nível político, na sua opinião, em que é que os políticos inovaram para captarem mais apoiantes?

Na América, neste momento, eles usam o FMRI (Functional Magnetic Resonance Imaging) [ técnica que obtém imagens do cérebro] para ajudar nas campanhas, perceber quais os candidatos com mais popularidade, e, consequentemente, com mais hipóteses de ganhar. No entanto, para mim, daqui a uns 10 ou 20 anos, com a evolução tecnológica, vão existir equipamentos capazes de enviar mensagens para o cérebro, de forma a controlar-nos e decidir por nós.

Na minha opinião, isto é muito perigoso. Sobretudo nos EUA, onde o Governo controla tudo, bem como os serviços secretos de segurança. Com este tipo de equipamentos eles poderão usar as pessoas para obter informações sobre terrorismo, ou outro tema. O mundo deve estar em alerta.