O modelo matemático desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) vem mostrar, numa “mensagem optimista”, que é possível acabar com a malária no mundo.

No estudo, que incide sobre as regiões subsarianas de África, foi desenvolvido um modelo “que reproduz a dinâmica de transmissão da malária que inclui os casos clínicos que apresentam sintomas e recorrem ao hospital, e os casos assintomáticos que são uma grande parte da população das regiões endémicas”, disse ao JPN Gabriela Gomes, coordenadora da equipa.

As infecções assintomáticas são desenvolvidas por indivíduos, que após várias exposições à doença, desenvolvem uma imunidade clínica, não apresentando sintomas, apesar de serem portadores do parasita. Os infectados assintomáticos possuem a mesma capacidade de transmissão, que é feita por via do mosquito Anopheles.

Este reservatório de “malária escondida”, como lhe chama Gabriela Gomes, é o principal alvo de intervenção do modelo, porque “os casos de malária assintomática contribuem de forma não visível para a transmissão e para a ocorrência de casos clínicos”, explica a coordenadora.

Os números da malária

– 200 a 500 milhões de pessoas são infectadas por ano
– 1 a 2 milhões dos casos resultam em mortes
– 35% da população mundial é ameaçada pela forma mais grave da doença
– 80% das vítimas vivem na África intertropical

Segundo a coordenadora da Equipa de Epidemiologia Teórica do IGC, este modelo matemático permitiu determinar a existência de um “limiar de erradicação da malária nas regiões de transmissão moderada” e estimar a contribuição das infecções assintomáticas no processo de disseminação da doença. “O limiar indica qual é a redução que tem de ser atingida nos casos assintomáticos para que a erradicação seja sustentada”, acrescenta.

Medidas de erradicação

A percentagem de malária assintomática é elevada, mas variável entre regiões, que pode ir desde os 2% em regiões de transmissão baixa até aos 90% nas regiões de transmissão mais intensa. Nas zonas de transmissão moderada a estimativa é de 30%.

Nas regiões de transmissão intermédia a principal medida de erradicação é “tratar toda a gente”, ou seja, infectados clínicos e assintomáticos, através da “distribuição em massa de fármacos antimaláricos”, adianta Gabriela Gomes.

A modeladora matemática acrescenta que nos focos de transmissão mais elevada “a estratégia de tratar toda a gente tem de ser complementada com medidas ambientais, como secar pântanos e recorrer às redes mosquiteiras”, de forma a transformar estes focos em regiões de transmissão moderada.

Colaboração com outros grupos de investigação

O modelo matemático, publicado esta terça-feira na revista norte-americana PLoS ONE, foi parametrizado com dados clínicos de malária referentes a quatro países (Gâmbia, Quénia, Malawi e Tanzânia) abrangendo seis zonas endémicas, tendo sido desenvolvido com a colaboração de colegas britânicos no Quénia.

Gabriela Gomes salienta o trabalho interdisciplinar que deve ser desenvolvido através do “alargamento da colaboração a outros grupos de investigação que trabalham no campo” porque “cada região tem as suas especificidades”. O objectivo futuro é “detalhar mais o modelo e parametrizá-lo a outras regiões”, acrescenta.