O histórico cinema Águia D’Ouro encontra-se actualmente em ruínas. A situação encontra-se em “banho-maria” desde 31 de Dezembro de 1989, altura em que a sala encerrou definitivamente, e já motivou duas petições lançadas por cidadãos.

Em 2003, o movimento cívico “Salvem o Águia D’Ouro” colocou na Internet uma petição para a recolha de assinaturas, que contou com 1.500 assinaturas, segundo Paulo Ferreira, mandatário da petição. Em Janeiro deste ano, foi lançada uma segunda petição, que recorda que o cinema Águia D’Ouro é uma referência cinematográfica desde 1908 e defende que a Câmara do Porto deveria tomar medidas para o reabilitar, que se encontra actualmente num “elevado estado de degradação”.

Jorge Martins, proprietário de uma confeitaria vizinha do Águia D’Ouro, afirma que o edifício está “degradado e não traz dinamismo nenhum à cidade. É um edifício muito antigo que devia ser recuperado”.

Em 2003, o grupo Solverde abandonou a ideia de fazer uma intervenção no Águia D’Ouro. Na altura tinha outras prioridades como a conclusão do Casino de Chaves e o pagamento ao Estado de quase 75 milhões de euros em licenças de jogo.

Inicialmente, a Solverde pensou criar um casino, mas a construção deste foi inviabilizada devido à proximidade do Casino da Póvoa e de Espinho.

Segundo Paulo Ferreira, a Solverde “só recupera o cinema Águia D’Ouro se a Câmara do Porto lhe der em troca um local para construir um casino ou bingo”.

A solução, segundo Odete Freitas, dona de uma drogaria nas redondezas do cinema, passa por “fazer como se fez no Guarany e no Majestic”. Já Paulo Ferreira propõe que toda a Praça da Batalha volte a ser uma sala de espectáculos.

Nas imediações do cinema muitos falam de um acordo realizado entre a autarquia e a Solverde (proprietária do imóvel) de arrastarem propositadamente o processo, como afirma Jorge Martins, proprietário de uma farmácia situada na área. Paulo Ferreira desconhece qualquer tentativa da câmara portuense de se intrometer no processo.

O mandatário da petição “Salvem o Águia D’Ouro” afirma ainda que existe um “abandono total por parte da câmara em relação ao imóvel e que qualquer dia o edifício é demolido devido ao seu elevado estado de degradação”.

Contactadas pelo JPN, a Câmara Municipal do Porto e a Solverde recusaram-se a prestar declarações sobre o tema.

Um imóvel à venda

O Águia D’Ouro abriu portas em Janeiro de 1839, ainda enquanto café. Em 1908 inaugurou a sala de cinema, exibindo filmes mudos. Pelo Águia D’Ouro passaram algumas figuras ilustres da literatura portuguesa, como Camilo Castelo Branco e Antero de Quental. Em 1931, o Águia D’Ouro sofreu obras de remodelação, nas quais foi construída a actual fachada.

Em 1989, o café fechou e o cinema teve o mesmo destino devido à falta de espectadores. Depois do encerramento do café e do cinema, o espaço ainda acolheu o INATEL, que foi obrigado a abandonar o edifício por perigo de derrocada.

10 anos depois, em 1999, quando se começou a discutir a estratégia para a capital europeia para a cultura, a ideia de criação de uma unidade funcional entre o Águia D’Ouro e o cinema Batalha foi repescada.

Na época pensou-se fazer lá a Casa da Música, mas a ideia foi abandonada visto que o imóvel foi classificado, em 1997, como património de interesse concelhio, o que inviabilizou eventuais alterações à traça original do edifício.

Em Setembro de 2006, a Solverde avaliou o Águia D’Ouro em 2,064 milhões de euros e colocou à venda o imóvel por 3 milhões de euros.