O fenómeno das apostas através da Internet veio trazer outra dimensão aos problemas ligados à dependência do jogo. Com ela surgiram novos apostadores e um número superior de possibilidades de apostas, que vão desde o futebol à política, passando pelas tradicionais slot machines.

A crescente popularidade dos jogos on-line deve-se ao facto de estarem disponíveis 24 horas por dia e por garantirem o anonimato dos jogadores. Pedro Hubert, psicólogo e especialista em dependência do jogo, confessa que “não há muitas formas de prevenir o jogo na Internet”, mas uma das soluções passaria por “pedir aos casinos on-line que limitassem o tempo e o dinheiro dos participantes”.

Em Portugal, não existem estruturas públicas que prestem apoio a jogadores compulsivos, porque o vício do jogo não é considerado uma doença. Pedro Hubert alerta para a necessidade de “aumentar o debate público”. A única entidade que lida com o problema, Jogo Responsável, vai ser criada oficialmente esta quinta-feira e vai surgir como um portal na internet.

O site Jogo Responsável tem como objectivos “informar, prevenir e atender as pessoas já viciadas no jogo e encaminhá-las para grupos como os Jogadores Anónimos, além de fazer com que o Estado português reconheça a ludopatia como uma doença“, afirma Luís Rebordão, impulsionador do projecto. O responsável conta que “tudo começou há dez anos” e que conhece bem a problemática porque já foi croupier do casino Estoril.

Luís Rebordão critica alguns parâmetros da última alteração à lei do jogo, que “não obriga o cidadão a mostrar a sua identificação à porta dos casinos”, e revela que o grande perigo é “não dificultarem a entrada de miúdos, que vão ver os espectáculos, nas salas mistas dos casinos”.

Pedro Hubert, colaborador do Jogo Responsável, não aprova o facto de as pessoas poderem levantar “a quantia que quiserem nos estabelecimento de jogo”, e considera este um factor directamente proporcional ao aumento do número de dependentes do jogo. Luís Rebordão alerta para a necessidade de “haver dentro dos casinos medidas de protecção aos consumidores“, que passariam pela formação dos profissionais.

O especialista em dependência do jogo salienta que “este é um problema que mata” e que “há uma grande taxa de suicídio nos jogadores patológicos, que pode ir dos 15 aos 20%”.

O perfil do jogador patológico

Um jogador compulsivo é uma pessoa “ausente”, que deixa de comparecer aos compromissos sociais e que possuiu um elevado grau de “irritabilidade, intolerância, obsessão, impulsividade e narcisismo”. Um jogador torna-se patológico quando “as apostas têm de ser cada vez mais elevadas para terem o mesmo efeito de prazer” e quando existe “ressaca” na ausência do jogo.

Pedro Hubert defende a “cedência de uma parte dos lucros dos estabelecimentos de jogo para financiar projectos de apoio aos jogadores patológicos”, como acontece, por exemplo, no Canadá. O especialista salienta a importância da discussão pública, para “prevenir atitudes depressivas por parte dos jogadores e fenómenos emergentes como o jogo de póquer a dinheiro em estabelecimentos de ensino”.