Do outro lado do Atlântico, sonham com uma vida melhor na Europa. A falta de condições financeiras ou a fuga à violência doméstica leva muitas brasileiras a viajar para Portugal, descobrindo os perigos do tráfico de mulheres.
Pernambuco, no nordeste brasileiro, é um dos locais de origem das mulheres traficadas em Portugal. Ricardo Lins, chefe da unidade de Prevenção e Enfrentamento de Tráfico de Seres Humanos do estado, calcula que existam, desde 2002, em Pernambuco, cerca de 150 casos de tráfico. 70% destas mulheres são exploradas na Europa (Portugal, Espanha, Alemanha). Os restantes 30% correspondem a tráfico interno.
Tráfico humano no feminino
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (em PDF), mulheres e raparigas são as mais afectadas:
– tráfico sexual: 98%
– tráfico laboral: 56%
Embora algumas jovens mulheres sejam vítimas de tráfico laboral, os casos de exploração sexual são mais comuns. Aliciadas por intermédio de “vizinhos e parentes”, através de estabelecimentos nocturnos ou até de “agências de emprego”, as vítimas sabem, “na grande maioria”, que se vão prostituir. Outras acreditam que vão “trabalhar em turismo ou dançar”, exemplifica Ricardo Lins.
Passaportes falsos facilitam tráfico
Geralmente, os traficantes são homens vindos de fora do Brasil, mas também podem ser “mulheres mais velhas”, ou “mulheres que já se prostituíram na Europa e que falam nas vantagens”, conta o chefe da unidade de combate ao tráfico de Pernambuco. “O traficante estrangeiro vem poucas vezes ao Brasil”, explica. Normalmente opta pela época de Verão, ou seja, os meses de Janeiro e Fevereiro.
Para além dos traficantes e intermediários, existem “agentes públicos que facilitam” o funcionamento das redes de tráfico. Ricardo Lins aponta como exemplo a falsificação de passaportes.
Quando o destino é Portugal, as vítimas viajam para “estados que não são tão fiscalizados” e atravessam o Atlântico directamente a partir daí. Segundo o chefe da unidade de combate ao tráfico de Pernambuco, Portugal é também um país de transição quando o destino são outros países europeus onde a fiscalização é maior.
Ricardo Lins acredita que é fundamental que as vítimas de tráfico não sejam punidas e apela à “cooperação entre países”, no sentido de uma maior divulgação de informação, pois “muitas [mulheres] que vão exercer a prostituição não sabem dos riscos”.