Mário Soares elogiou, esta quinta-feira à noite, o conceito da União Europeia, mas acredita que a Europa não está a usar todas as suas potencialidades. “A União Europeia não é ainda uma federação, nem uma confederação, nem um super-Estado. Continua, por falta de coragem dos seus dirigentes, um híbrido institucional”.

Mário Soares marcava presença na sessão de abertura da segunda edição da “Crítica do Contemporâneo”, numa conferência sobre “A Política”. O antigo Presidente da República mostrou-se preocupado com a actual crise financeira dos EUA, “uma crise gravíssima, a repercutir-se no resto do mundo”.

O antigo chefe de Estado apontou algumas das causas da “desaceleração” dos Estados Unidos e salientou que a queda do dólar é prejudicial para os próprios EUA, pois, “apesar de lhes facilitar as exportações, todo o dinheiro e capital que ía para a América vai agora para os bancos europeus”.

“Estamos a regressar ao Keynesianismo”

Mário Soares afirmou que a sua vontade recai sobre uma vitória do democrata Barack Obama nas presidenciais americanas, em Novembro, e acredita que, “se não houver uma mudança nos Estados Unidos, o mundo Ocidental entrará numa profunda decadência”.

“Perante tantas desgraças feitas pela administração Bush e pelo neoliberalismo a nível mundial, muitos falam de crise civilizacional. Estamos a regressar ao Keynesianismo, em que os estados são obrigados a intervir”, afirmou.

Mário Soares acredita também que já não há G-8 nem uma minoria de países poderosos. “Com os países emergentes voltamos ao multilateralismo, onde todos os países têm lugar no comércio mundial”. Acrescenta que é por isso necessário regulamentar a globalização, o que só será possível “através de um acordo ao nível das Nações Unidas”.

Portugal “não tem motivos para alimentar complexos de inferioridade”

Em relação a Portugal, Soares assegurou que “é um país de futuro, com grande potencialidades de desenvolvimento e progresso”. “Não temos motivos para alimentar complexos de inferioridade em relação a ninguém”, frisou, apontando a identidade portuguesa e a lusofonia como características meritórias do país.

Soares sublinhou ainda a boa situação do Brasil e classificou de “obsoletos” o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, que na sua opinião deveriam estar inseridos nas Nações Unidas.

O programa de conferências internacionais promovido pela Fundação de Serralves conta com três ciclos de quatro conferências. Mário Soares vai moderar as três restantes conferências do ciclo “A Política”, cujos convidados são Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, Michel Rocard, ex-primeiro ministro francês e Federico Mayor, ex-director-geral da UNESCO.

Fazem também parte do programa coordenado por Rui Mota Cardoso os ciclos “A Ecologia” e “O Social”, que se realizam entre 15 de Maio e 27 de Novembro.