Esta quinta-feira, foi dado mais um passo simbólico para a reunificação de Chipre. No centro de Nicósia, a capital da ilha, foi aberto um ponto de passagem, na rua Ledra, permitindo o contacto entre cipriotas gregos e turcos.

Contexto histórico do conflito cipriota

A população de Chipre está dividida em dois grandes grupos: os greco-cipriotas (74% da população) e os turco-cipriotas (23% da população, que se concentra na parte Norte da ilha). Desde a invasão da parte Norte da ilha pelos turcos, em 1974, que estas duas comunidades não têm qualquer tipo de contacto. Mais de 69% da população vive em cidades, sendo as mais importantes Nicósia, Limassol, Larnaca e Paphos. As barreiras implementadas na rua Ledra foram a primeiras a serem erguidas em Nicósia na sequência da violência entre as duas comunidades cipriotas em 1963.

Representantes de ambas as comunidades estiveram presentes na cerimónia de abertura do novo ponto de passagem, na zona-tampão da última capital dividida do mundo.

A vedação metálica que ali havia sido colocada, há cerca de um ano, pelas autoridades cipriotas-gregas, substituindo o muro que separava os dois sectores, Norte e Sul, foi desmantelada antes do amanhecer, indica a Associated Press. O trabalho foi executado por uma dezena de soldados na rua Ledra, uma popular rua pedonal de comércio e cafés na parte antiga da capital.

“Chipre continua bastante distante da paz”

“É algo sobretudo simbólico“, afirma Raquel Vaz Pinto, investigadora do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. A analista acrescenta, ainda, com algum cepticismo, que não acredita que este seja “um passo muito significativo na direcção da reunificação da ilha”.

Quanto ao papel desempenhado pela ONU na resolução do conflito cipriota, Raquel Vaz Pinto considera que a organização “está a fazer aquilo que é possível”, ou seja, depara-se com alguns “limites e algumas condicionantes, aos quais não consegue de todo fugir”. “E esta é uma questão muito controversa, muito quente”, afirmou ao JPN.

As condicionantes a que a investigadora se refere remetem para os obstáculos levantados por alguns Estados dentro da ONU: “Há países que claramente não querem que esta reunificação seja feita e, portanto, tentarão sempre limitar ou, pelo menos, condicionar a actuação [da ONU]”.

À parte destes diferendos, Chipre acabou por assinalar uma etapa simbólica nos esforços de reunificação. Para Raquel Vaz Pinto, o facto de Chipre ser membro da União Europeia e a Turquia querer aderir “pode, de algum modo, explicar estes pequenos passos simbólicos de abertura”.

No entanto, na opinião da investigadora, “Chipre continua bastante distante da paz”.