“V Império” é o nome do novo álbum do grupo de hip-hop nortenho Dealema, que sucede ao disco de estreia homónimo, editado em 2003. A banda apresentou o novo CD segunda-feira, 31 de Março, na Fnac do NorteShopping, em Matosinhos, num mini-concerto onde a assistência era predominantemente jovem e masculina.

Antes do concerto, Maze, um dos MC da banda, afirmou ao JPN que o título do disco é “uma combinação de vários factores”. “Nós somos cinco, não lançamos discos há cinco anos, e aproveitámos o conceito do Quinto Império, que vem do Padre António Vieira e de Fernando Pessoa, para traduzir o nosso renascimento espiritual”, explica.

A ideia, diz Mundo, outro dos MC, “é ir buscar o passado e trazê-lo para o presente”, para “não se esquecerem” das raízes do hip-hop. Maze considera que as músicas da banda transmitem mensagens que não devem ser consideradas como “um dado adquirido”. O objectivo, explica Mundo, é que cada pessoa “pense por si”.

O primeiro single, “Sala 101”, é baseado no livro “1984”, de George Orwell, em que surgiu a expressão “Big Brother”. Maze considera que “Sala 101” é uma forma de “alerta” para a realidade actual. “Hoje em dia nós vivemos com a câmara apontada. Não existe privacidade. Estamos constantemente a ser observados”, denuncia.

Hip-hop trintão

“Há mais de 12 anos” a fazer música, os Dealema têm todos uma idade próxima da casa dos 30, o que, segundo Mundo, é importante para a evolução do primeiro para o segundo álbum. Maze diz que “V Império” espelha o “amadurecimento” da banda, “quer pessoal, quer como músicos”.

Com influências “que vão do hip-hop ao reggae, soul ou funk”, os Dealema tiram partido das diferenças de cada elemento do grupo para “criar um todo com mais substância”, diz Mundo. A inspiração é “a vida quotidiana”, acrescenta Maze.

Segundo Mundo, quando a imprensa “descobriu” o hip-hop, o “movimento” já existia há muitos anos em Portugal, interligando pessoas “de norte a sul do país”. Maze diz que os Dealema fazem música com a mesma vontade e empenho dos primórdios, mas dá preferência à música que se fazia nos anos 90 do século passado, “porque a comercialização do hip-hop também veio trazer muitas coisas más à indústria”.

Mundo afirma que o hip-hop veio “reciclar o que já se fazia há muitos anos e passar outra vez a pegar na nossa língua mãe”. Reconhece o mérito de “lendas” como os Xutos & Pontapés ou Sérgio Godinho e considera que a única mudança que o hip-hop trouxe à música portuguesa foram os textos “mais compostos”, que “levam as pessoas a debruçarem-se mais sobre a língua para compreenderem a profundidade das frases”.

Para Maze, “a facilidade que os portugueses têm para falar línguas estrangeiras às vezes faz-nos ouvir demasiada música estrangeira”. O MC lembra que, ao contrário dos portugueses, “os espanhóis só consomem música espanhola”. Uma questão de cultura, conclui.