António Batista Lopes, presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), considera o Acordo Ortográfico, ratificado em Março pelo Conselho de Ministros, desnecessário visto que “não serve rigorosamente em nada os interesses de promoção da língua portuguesa nem os interesses de Portugal”.

Em entrevista ao JPN, Batista Lopes rejeitou a necessidade portuguesa de um Acordo Ortográfico, seja ele o que está prestes a entrar em vigor ou qualquer outro. O presidente da APEL refere que um dos motivos invocados pelos defensores do acordo é que ele “contribuiu para uma maior divulgação da língua portuguesa na cena internacional” e, para refutar este argumento, recorre à analogia do “inglês britânico” e o “inglês norte-americano”.

“Há outros países que têm em comum a língua, como Inglaterra e Estados Unidos, e que se entendem perfeitamente com as variantes de cada país, sem necessidade de nenhum acordo”. Uma constatação que leva Batista Lopes a questionar a decisão portuguesa: “Porque é que os países onde se fala a língua de maior expressão em termos planetários, que é o inglês, não sentem necessidade de realizar um acordo ortográfico?”

Para o presidente da APEL, a resposta é simples e objectiva: “a riqueza de uma língua reside na sua diversidade” e, por essa razão, torna-se evidente que “este ‘desacordo’ não vem provocar nenhum reforço da lusofonia”.

Incorre(c)ção no tratamento da língua

Na sequência do debate parlamentar que reuniu académicos, políticos, escritores, editores e outros intelectuais para discutir a nova ortografia, António Batista Lopes critica a forma como tem sido debatida a implementação do acordo.

Quando questionado sobre uma possível consulta popular, o presidente da APEL não aponta o referendo como uma hipótese viável, mas admite não ter dúvidas que “lamentavelmente, este processo não está a ser objecto do debate alargado, forte que deveria ser”. “Isto é, no mínimo uma forma menos correcta de tratar uma questão tão importante como é a língua que nós falamos”, afirmou.

Batista Lopes cita, ainda, Fernando Pessoa: “a minha pátria é a minha língua”. Pretende, desta forma, lembrar que as palavras do poeta deviam dar a todos os falantes de português “uma responsabilidade quanto ao modo como tratam a língua”.