Durante todo o trajecto percorrido desde 1990, no que se refere à uniformização ortográfica da língua portuguesa, Timor-Leste esteve sempre à margem do projecto. A ausência era justificada pelo facto de, à data, o país estar sob o domínio indonésio desde a invasão em 1975 (três dias depois de a antiga colónia portuguesa ter alcançado independência).

Uma situação que se alterou radicalmente, em 1999, quando, após um complexo processo de referendo popular, Timor-Leste se tornou, oficialmente, uma nação independente. Este facto permitiu que, em 2004, quando os chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) se reuniram em S. Tomé e Príncipe e elaboraram um Segundo Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, Timor pudesse aderir ao acordo, elevando para oito o número de países abrangidos pelo documento.

Depois da independência, a par do tétum, o português foi considerado língua oficial do país. No entanto, a difusão do idioma tem sido difícil e a maioria dos habitantes locais recorre ao tétum e ao indonésio para se expressar no dia-a-dia. Esta realidade contribui, assim, para o facto de, tal como a maioria dos países lusófonos, Timor ainda não ter ratificado o acordo de 1990 que propõe uma grafia uniformizada do português.

Estado português empenhado no ensino da língua

Durante uma visita oficial de três dias a Timor-Leste, João Gomes Cravinho, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, admitiu, à Lusa, que se a “difusão do português falhar” naquele país, “acontecerá o mesmo noutros países lusófonos”.

Gomes Cravinho destacou que “a prazo, a Língua Portuguesa é um elemento fundamental para a manutenção de Timor-Leste como país independente” e que Portugal tudo fará para “estar à altura desta responsabilidade histórica”, uma vez que estão em causa a “projecção de Portugal no mundo e a consolidação de Timor-Leste como Estado independente”.

Em consequência da receptividade timorense, Gomes Cravinho anunciou o envio de mais 30 professores nacionais, aumentando o número de docentes de 120 para 150. O secretário de Estado considerou “heróico” o trabalho desenvolvido pelos formadores portugueses.

2008 é um ano “chave” para a estratégia da língua ortuguesa

No ano em que Portugal se prepara para ratificar o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, a Presidência da República e o Ministério da Cultura têm unido esforços para incentivar e difundir o uso do idioma nos países de expressão portuguesa.

A entrada de Timor-Leste na Comunidade de Países de Língua Portuguesa e a sua inserção na assinatura do acordo permitiram a criação de uma variante “luso-afro-asiática” do português. A denominação atribuída pelo professor João Malaca Casteleiro inclui também a “região administrativa especial de Macau onde o português vai permanecer como língua oficial por mais 40 anos”.

O facto de o povo timorense ainda estar pouco familiarizado com o idioma luso e optar, preferencialmente, pelo tétum ou por uma das outras 15 línguas oficiais, coloca o país na linha da frente da estratégia de difusão da língua portuguesa em 2008.

João Malaca Casteleiro considera que este afastamento da lusofonia se explica devido a “circunstâncias históricas que levaram à perda da língua entre a juventude”. Contudo, o professor realça o uso administrativo da língua em todos os documentos oficiais.

Para o defensor da ratificação do acordo, constatar que Timor ainda não nomeou nenhum governante para reger o documento da nova grafia não se revela preocupante. “O facto de ainda não haver ninguém nomeado não tem problema porque vamos ter um período de adaptação de seis anos e, por isso, haverá tempo suficiente para Timor se envolver neste processo”, tranquiliza.

Malaca Casteleiro confessou, ainda, ao JPN que, em Timor, “existem pessoas muito qualificadas e com capacidades” para integrarem e gerirem o percurso de ratificação ortográfica.