Entre as várias temáticas apresentadas pelos artistas no “AdA – Festival Europeu em Acção”, que decorreu entre quinta-feira e sábado, no Porto, houve espaço para abordar temas sociais e problemáticas que permanecem na sociedade actual.

A violência doméstica e o questionamento do papel da mulher na sociedade foram alguns dos temas exploradas pelos artistas nas suas acções performativas que, de forma mais ou menos dramática, pretendiam uma crítica da sociedade, muitas vezes inspirada nas experiências pessoais dos artistas.

Otávio Luiz, artista do Brasil, interpretou o papel de uma mulher mal tratada numa intervenção performativa de cariz teatral “Débora de Castro”, que retrata o problema da violência de género, em conjunto com a cultura popular brasileira.

A acção teve início na Praça da Batalha, onde “Débora” é amarrada por um homem que a vai arrastando pela Rua 31 de Janeiro. O percurso termina na estação de S. Bento, onde a mulher é apedrejada pelo homem, culminando na queda da personagem no chão.

“A personagem representa a figura da minha mãe, uma mulher que viveu toda essa violência e que foi castrada, punida e sempre fiel a um único homem”, revela Otávio Luiz, para quem este festival representa “o poder de falar sem fronteiras”.

Artista critica estereótipo da mulher do século XXI

Sheila Toledo, uma jovem artista espanhola retratou, na sua acção “Despejado”, o papel da mulher na nossa sociedade actual. Vestida da parte de cima unicamente com um casaco de homem, a artista está agachada no chão. À sua frente um guarda-chuva, virado ao contrário, contem água e folhas de árvores.

Sheila começa a comer as folhas, levanta-se e dirige-se para outro sítio mais à frente à medida que vai despindo o casaco, ficando sem qualquer vestuário da parte superior. Com um batôn encarnado, retratando a feminilidade da mulher, a artista escreve expressões no seu corpo. No seu ventre lê-se “Ich bin kein Opfer”, uma frase em alemão que significa “Não sou nenhuma vítima”.

“Quero criticar a situação das mulheres na nossa sociedade”, conta Sheila Toledo, explicando que, em parte, a crítica é direccionada “às mulheres que se operam, que aumentam os seios para agradar os homens”.

Inspirada por uma “situação familiar semelhante que viveu”, Sheila Toledo defende que “as mulheres devem aceitar-se tal e qual como são”. É esta a mensagem que pretendeu transmitir com a sua performance, que decorreu no Largo da Maternidade, no Porto.