Depois das imagens de agressão de uma aluna a uma professora na Escola Carolina Michaëlis, no Porto, foram muitas as questões que se levantaram sobre o meio escolar. No ano lectivo 2006/2007, o Observatório de Segurança em Meio Escolar contabilizou 185 professores agredidos.

A linha SOS Professor recebeu entre Setembro de 2007 e Março deste ano, 124 chamadas. O relatório da linha telefónica, da Associação Nacional de Professores (ANP), revela que 52,4% dos docentes que recorreram à linha queixaram-se de agressão verbal, 36,3% de indisciplina e 30,6% de agressão física.

A relação entre os principais agentes – pais, professores, psicólogos e crianças – é cada vez mais delicada. “A solução passa por toda a sociedade educativa, pois não se consegue fazer um trabalho intervindo num dos elementos apenas”, referiu ao JPN Cláudia Gandra, psicóloga escolar.

“Eles enfrentam-nos diariamente e tentam sempre desafiar-nos”

Júlio Pereira, psicólogo e coordenador do mestrado em Integração Comunitária, da Escola Superior de Educação Paula Frassinetti (ESEPF), no Porto, defende que a sociedade está em constante mutação, bem como os seus agentes.

“Há algumas mudanças nas crianças e jovens que pressupõem que os docentes os conheçam a fundo e não cedam a todo e qualquer comportamento. Ser exigente em situações importantes”, revela.

Pais apontados por muitos professores como culpados

Apesar de reconhecerem e aceitarem o facto das crianças e jovens estarem a mudar, muitos professores apontam a culpa aos pais. Professora há 31 anos, Maria Teresa Vasconcelos explica que “há um menor respeito em relação aos professores” e que “isso vem de casa, vem da comunicação social, que passa uma imagem errada dos professores”.

Já Maria Gomes, docente de Inglês do Ensino Secundário, defende que nos últimos anos houve um aumento de “indisciplina, má educação e desinteresse, com os pais a envolverem-se na escola pela negativa”. “Eles enfrentam-nos diariamente e tentam sempre desafiar-nos”, referiu outra professora, Alzira Duarte.

Maria Santos, professora de Matemática também do Ensino Secundário, vai mais longe ao defender a penalização dos pais como consequência das acções dos filhos. “Enquanto os pais não forem penalizados pelas más atitudes dos filhos, isto não melhora”, disse ao JPN.

“É preciso ver as condições que as famílias têm para educar”

Questionado sobre as acusações dos professores, Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), explicou ao JPN que “a crise que leva a algumas situações de violência é mais generalizada e não pode ser só apontada às famílias”. “É preciso ver as condições que as famílias têm para educar”, afirmou.

O presidente da CONFAP explicou que, antes de colocar quaisquer culpas nos pais, é preciso perceber a constituição das famílias portuguesas actualmente, uma vez que são cada vez mais as famílias mono-parentais e desestruturadas.

Albino Almeida defende que os pais devem ter um papel de complementaridade na escola, bem como “chamar a atenção dos jovens para que aquele é o seu trabalho, enquanto têm a idade”.

“A escola também tem que se interrogar se os professores estão a ter uma formação contínua para os jovens que vão encontrar e não para aqueles que têm na cabeça, se estão a tê-la para os problemas que estão a ter no dia-a-dia e não para currículos”, acrescentou Albino Almeida.

Psicólogo escolar: mediador entre professores, alunos e pais

Do ponto de vista legal, nenhuma escola é obrigada a contratar um psicólogo escolar. Contudo, o Ministério da Educação já permitiu que as escolas e agrupamentos considerados “Territórios Educativos de Intervenção Prioritária” contratassem um outro auxiliar de apoio.

Orientação escolar, bem como a “avaliação psicológica de casos referenciados pelos professores ou pelos próprios encarregados de educação” são as principais funções dos psicólogos escolares, explicou Cláudia Gandra.