O concerto “Música pelo Médio Oriente” juntou, na passada quinta-feira, no palco do Theatro Circo, em Braga, o músico palestiniano Marwan Abado, a dupla iraquiana Wesam Avoub e Ehad Al-Azzawy, a três elementos dos Clã e Jorge Palma.

José Mário Branco, responsável pela iniciativa promovida pela Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque, afirmou que, desde que começou a invasão no Iraque, todos os anos pelo mês de Março são criadas novas iniciativas para assinalar o momento porque, infelizmente, “os grandes meios de comunicação referem-se pouco a esta situação do ponto de vista da população”.

O cantor fez um balanço positivo dos últimos concertos, sublinhando que este tipo de música vem anexado a um “efeito de novidade” de uma cultura com a qual a população portuguesa não está ainda muito familiarizada.

A presença dos membros dos Clã e de Jorge Palma serviu de chamariz para um espectáculo que visou chamar a atenção da população portuguesa. “Devemos alertar as pessoas para esta situação e interpelar o Governo sobre a continuação desta política de condescendência para com o imperialismo americano que começou com Durão Barroso, passou por Santana Lopes e continua com José Socrates”, afirmou José Mario Branco.

A busca “por um lado humano num conflito desumanizado”

A viver na Áustria desde 1985, Marwan Abado nasceu em 1967 num campo de refugiados em Beirute, no Líbano. É cantor, compositor e tocador de ud, instrumento que antecedeu o alaúde. Inspira-se na poesia árabe e, apesar de a letra ser difícil de traduzir, afirmou que “a música é universal e os ocidentais vão acabar por senti-la”.

Wesam Ayub é tocador de santur, um instrumento antecessor do piano. Saiu da terra natal em 1981, onde era professor do instrumento na Escola de Bagdade e exilou-se na Holanda. É representante na Europa da União dos Músicos Iraquianos e, em nome da libertação, dá espectáculos por todo o mundo. Inspira-se na paz para criar música e o seu principal objectivo é limpar a imagem que os ocidentais têm do seu país. “Nós temos mais cultura, mais coisas, para além do terrorismo”, afirmou. “Temos que procurar um lado humano num conflito desumanizado”, acrescentou Marwan Abado.

“Se tocar o meu instrumento no Iraque alguém pode ser morto”

O percussionista Ehad Al-Azzawy, filho de Wesam Ayub, descendente de uma familia de músicos, destaca-se por tocar instrumentos como a darkuba, riqq e tar e acompanha o pai neste conjunto de quatro concertos em Portugal. A família de Ehad abandonou o Iraque porque era difícil sair do país, tocar no resto do mundo e voltar a casa.

Os músicos retrataram um Iraque onde, segundo eles, a opressão cultural, desde 2003, altura da ocupação americana, é uma constante. “Se tocar o meu instrumento no Iraque alguém pode ser morto”, explicou Wesam.

Na noite da passada quinta-feira os três músicos juntaram a música tradicional do Médio Oriente à voz de Manuela Azevedo e ao improviso de Jorge Palma para criarem uma atmosfera de comunhão cultural. No final do concerto todos os músicos se reuniram para interpretar um tema de Jorge Palma. Formas diferentes de fazer música partilharam o mesmo palco, sem conflito e dando a ver a sua própria identidade.