Nos Estados Unidos, a imagem da presidência pode vir a mudar. Depois de oito anos sob a égide do republicano George W. Bush, o país pode vir a eleger um candidato democrata que, a acontecer, fará história: Barack Obama e Hillary Clinton.

O candidato republicano, John McCain é, para já, o único que já garantiu o número suficiente de delegados para ser oficialmente nomeado. Apesar de bem colocado, McCain enfrenta uma poderosa mensagem de mudança, a de Obama. É, pelo menos, a opinião do correspondente em Washington do jornal britânico “The Daily Telegraph” Toby Harnden, que, ao JPN, fez um retrato do cenário que rodeia as eleições primárias.

Como é que se chegou à possibilidade de escolha entre um candidato afro-americano e uma mulher?

A ideia de que os Estados Unidos são um país cheio estereótipos como os cowboys ou rednecks ou pessoas que nunca viajam para o estrangeiro ou que não estão bem informadas, muitas vezes é falsa. Os Estados Unidos são um país de enorme variedade, são 50 estados, cada um tendo um carácter diferente. Há muitas pessoas de esquerda, há tantos democratas como republicanos.

Mas há uma clara figura do presidente: nunca foi ou uma mulher ou um afro-americano…

Sim, claro. Clinton ou Obama, um dos dois, vai ser o claro favorito para se tornar o próximo presidente. Eu já ouvi pessoas, repetidamente, a dizer que um afro-americano nunca será eleito nos Estados Unidos. Mas Obama já ganhou 26 estados, matematicamente é quase impossível para Clinton o ultrapassar, portanto ele está numa posição muito, muito favorável para de tornar o nomeado.

O “homem branco”, John Edwards, estava completamente quebrado, não conseguiu competir com o mediatismo e a vontade de fazer história dos outros dois. Vamos esperar pelas eleições gerais. Se Obama ou Hillary perderem, não será por sexo ou raça, mas por outros factores.

Dos dois, qual tem a maior possibilidade de fazer história?

Acho que até agora a mensagem mais bem sucedida nestas eleições tem sido a de mudança de Obama. Tem atingido as pessoas de tal forma, particularmente no Iowa, que todos os outros candidatos começaram a usá-la, incluindo pessoas como Mitt Romney ou Clinton. Os contra-argumentos de Clinton e os de John McCain têm fundamento, mas acho que as pessoas em todo o país – e eu já cobri as eleições em todos os 50 estados – têm um profundo ressentimento em relação a Washington e à acção habitual na cidade. E esse é um problema que Clinton tem, porque, embora seja uma mulher, é uma Clinton, e tem basicamente estado em Washington desde 1992.

E o outro facto que destacaria em Hillary é que ela quer fazer a história que quer fazer, não por aquilo que logrou alcançar na carreira política, mas por ser a mulher de um ex-presidente. E portanto, de uma certa forma ela é uma candidata anti-feminista. De um lado está a tentar quebrar todo o tipo de estereótipos, mas por outro lado está a tentar fazê-lo baseada no facto de ser a mulher de Bill Clinton.

A mudança seria provavelmente inevitável, mais tarde ou mais cedo, mas terá sido a administração Bush a apressá-la?

Sim. Quando Bush ganhou as eleições em 2000, também o fez parcialmente num pressuposto de mudança. O discurso dele foi sobre os Clinton ou sobre o facto de serem pessoas de Washington a governar o país. Mas Bush sempre avisou que ia abordar a gestão do país de uma forma empresarial, que ia ser diferente e novo. Mas se as pessoas virem como foi desde 2000, vê uma continuação do tipo de governo de elite, muito pouco vasto, com uma ou duas famílias, não muito mais, a governarem.

Acho que as pessoas agora querem fugir a isso e essa será talvez a grande força de Obama. Pessoalmente acho que ele é o grande favorito a nomeado e, se o conseguir, é de longe o favorito a ganhar as eleições. A verdade é que um homem de 46 anos conseguiu em apenas três anos de Senado uma máquina política como a dos Clinton. Um empate ou uma possível vitória mostram quão forte é o desejo de mudança.