Faleceu quarta-feira, aos 90 anos, vítima de cancro, o matemático e meteorologista que desenvolveu a Teoria do Caos, mais conhecida como teoria do “Efeito Borboleta”.

Lorenz partiu da premissa de que pequenos eventos podem causar mudanças caóticas a médio ou longo prazo e na década de 60, altura em que leccionava no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) desenvolveu um estudo intitulado “Previsibilidade: O bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadeia um tornado no Texas?”.

“Caos determinístico”

De acordo com Jorge Buescu, da Sociedade Portuguesa de Matemática e professor da área dos Sistemas Dinâmicos na Faculdade de Ciências de Lisboa, o que Lorenz descobriu foi “algo que durante quase uma década passou despercebida, porque as pessoas simplesmente não estavam preparadas para ouvir: a criação de caos determinístico”.

Perfil de Edward Lorenz

Nasceu em 1917, no Connecticut. Formou-se em matemática na Universidade de Harvard em 1940, especializando-se em meteorologia no MIT entre 1943 e 1948, onde mais tarde deu aulas. Cumpriu serviço militar durante II Grande Guerra Mundial, trabalhando na previsão meteorológica para a Força Aérea norte-americana. A ideia de que o bater de asas de uma borboleta nos Estados Unidos pode provocar uma tempestade num ponto oposto do globo obteve rapidamente a atenção dos meios de comunicação, principalmente por ser sustentada pelo atractor tridimensional ou o gráfico que representa as equações da Teoria do Caos, que tem uma forma semelhante à de uma borboleta.

Esta descoberta, de acordo com o professor, é “incrível” e, por isso mesmo, é considerada “uma das maiores contribuições para a física desde os tempos do Newton”. “Associamos a ideia de caos a ter muitas variáveis”, refere ao JPN. “Aquilo que Lorenz demonstrou foi que sistemas muito simples podem exibir caos e na verdade bastam três variáveis”, exibindo assim, uma “dependência sensível das condições iniciais”.

Para o matemático Nuno Crato, o bater de asas de uma borboleta no Brasil como causadora de um tornado no Texas é “uma metáfora profunda”. A partir dela, Lorenz “mostrou que há sempre um grau de impossibilidade na previsão de certos sistemas”, como é o caso da meteorologia.

A Teoria do Caos, para Crato, foi “importantíssima”, uma vez que “lançou praticamente um novo campo de estudo na matemática”.

O erro da simplificação

De acordo com o matemático Jorge Freitas, “Lorenz verificou que pequenos erros de arredondamento tinham repercussões enormes nas previsões meteorológicas e que este fenómeno não era apenas resulta das incapacidades do computador mas sim algo que era intrínseco ao próprio modelo matemático”.

Jorge Buescu explica que antes da Teoria do Caos as equações que não se podiam resolver eram “simplificadas até se transformarem em equações” passíveis de solução. No entanto, com a descoberta de Lorenz, percebeu-se que ao fazer-se isso pode-se “estar a deitar fora o bebé com a água do banho”, ou seja, corre-se o risco de se eliminar elementos importantes.

Jorge Buescu salienta que a Teoria do Caos “tem impacto em praticamente todas as ciências da natureza, porque abriu um novo paradigma de exploração das equações”, influenciando a física, economia, biologia e várias áreas da engenharia, como a própria área que lecciona. “O artigo do Lorenz, que tem 40 anos tem mais de 4 mil citações, a maior parte delas nos últimos 20 ou 30 anos”, remata.