O antigo director do “Jornal de Notícias” (“JN”), Frederico Martins Mendes, apresentou no passado domingo o seu livro “Memórias de notícias do jornal”. A apresentação decorreu na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos, cuja câmara municipal foi o principal patrocinador do livro, como revelou ao JPN Frederico Martins Mendes.

O jornalista e docente do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto confessou que “a ideia de escrever um livro nasceu na última entrevista” que deu “na despedida como director do JN”. “Foi uma jornalista, amiga de há muitos anos, que me propôs a ideia e eu prometi que se tivesse tempo escrevia um livro sobre as minhas memórias de 50 anos no JN”, explicou.

Na sua obra, compilada em mais de 600 páginas, Frederico Martins Mendes conta histórias “interessantes para os leitores, porque revelam a forma como certas coisas se passaram no interior dos jornais”. “Cachas”, reportagens sobre o 25 de Abril, os informadores (ou “anjos telefónicos”, como gostava de os tratar), entre outras histórias, enchem as páginas do livro.

Até Marcelo Rebelo de Sousa tem um lugar especial. “Considerava-me o seu companheiro mais divertido”, confessou o antigo director do “JN”. Para os amantes do futebol, as entrevistas a Maradona e a Raymond Domenech, seleccionador francês, e a cobertura dos Mundiais do México e França são outras das curiosidades contadas nas mais de 600 páginas da obra.

Frederico Martins Mendes não deixou de abordar em “Memórias de notícias do jornal” a introdução da Internet no diário portuense. “Fui eu quem introduziu a Internet no JN”, diz, antes de explicar outras mudanças significativas por ele operadas no jornal. “Muitos directores profetizarem a nossa morte. Houve até um que disse o seguinte: ‘Cada um suicida-se como quer’. Coitado, enganou-se”, conclui, como um leve sorriso nos lábios.

“Hoje há mais funcionários dos jornais e do computador” do que jornalistas

Na entrevista ao JPN, Frederico Martins Mendes abordou ainda o jornalismo actual, comparando-o com a profissão no seu tempo. “Hoje há mais funcionários dos jornais e do computador” do que jornalistas, desabafa. “Eu tenho uma história de um naufrágio em que estive dias à chuva e ao frio, hoje nenhum jornalista faz isso. Está sempre à espera da hora para acabar o trabalho e ir para casa”, justifica.

O antigo director do JN não compreende a forma como se cobrem certos assuntos. “Tratam-se certos casos de enfermagem como se fossem grandes operações cirúrgicas e o inverso também é verdadeiro. E o que falta verdadeiramente é um jornalismo de investigação”, rematou.

Para o futuro, não está excluída uma segunda edição do livro. “Se este livro tiver algum êxito talvez possa fazer uma segunda edição das minhas histórias, porque neste não estão todas”.