O debate quinzenal desta quarta-feira ficou marcado pela moção de censura apresentada pelo PCP ao Governo, devido à revisão do Código de Trabalho. É a segunda moção feita ao Governo de José Sócrates. A anterior foi apresentada pelo Bloco de Esquerda a propósito do Tratado de Lisboa. O primeiro-ministro acusou o PCP de estar a apresentar uma moção contra o diálogo na concertação social.
Os comunistas reprovaram a revisão do Código de Trabalho e a política económica do Governo. Sócrates, por seu lado, disse que os comunistas estão mais preocupados em acusar o PS do que com as condições dos trabalhadores.
O ponto forte do debate foi a acesa discussão entre o primeiro-ministro e os grupos parlamentares de esquerda. Depois do confronto com Jerónimo de Sousa, Sócrates envolveu-se numa discussão azeda com Francisco Louçã. O líder do BE teceu duras críticas ao primeiro-ministro, acusando-o de não cumprir promessas feitas em tempo de oposição, no que diz respeito à revisão do Código de Trabalho.
Louçã foi mais longe e disse que o Governo “não tem palavra nem respeito”. O primeiro-ministro acusou o BE de estar a “trabalhar” para as eleições. “O que é uma vergonha é um partido que diz defender os trabalhadores optar por acusar o Governo”, reforçou. “O senhor [Louçã] não tem idade, nem currículo, nem autoridade para dar lições de moral”.
“Quem se mete com a Mota Engil leva”, atirou Louçã, numa referência à nomeação de Jorge Coelho (autor da célebre frase “Quem se mete com o PS leva”), militante socialista, como presidente da Comissão Executiva da construtora.
A bancada do PS aproveitou o seu tempo de intervenção para tecer elogios à revisão do Código de Trabalho e criticar a atitude do PCP. “É a cegueira da esquerda que descredibiliza a política em Portugal”, disse Pedro Nuno Santos.
PSD propõe plano de estímulo à economia
Mais calma foi a intervenção do PSD. Santana Lopes propôs um plano de estímulo à economia portuguesa, devido às condições da economia mundial. No entanto, Sócrates desvalorizou a questão. “O país está cansado de políticos que dizem que não vamos ultrapassar as dificuldades”, respondeu.
A discussão entre Portas e Sócrates foi mais intensa. O líder da bancada do Partido Popular trouxe a debate as questões dos aumentos dos preços e da perda de compra dos portugueses. Em troca, Sócrates acusou-o de usar uma “política de demagogia para ganhar votos”.
O deputado do PP criticou ainda o caso de doentes mandados a Cuba para efectuar cirurgias às cataratas e questionou as competências do Governo por falta de uma proposta para resolver a questão. Portas chegou mesmo a chamar o primeiro-ministro de “incompetente” em matéria de Segurança, a respeito das penas de carjacking e da falta de policiamento nas esquadras.
No final do debate, Os Verdes falaram da agricultura portuguesa, mas José Sócrates remeteu o caso para o ministro da tutela em causa.