Os Jogos Paraolímpicos de 2008 marcam a primeira participação portuguesa na competição em vela adaptada. Bento Amaral e Luísa Silvano garantiram o apuramento no Campeonato do Mundo de Vela Adaptada de 2007, que se realizou em Rochester, nos EUA, e no qual se classificaram em 13º lugar.

As regatas dos Jogos Parolímpicos deste ano vão ser largadas em Qingdao. A dupla de velejadores vai competir com outras 11 em Skud18, uma classe recente. Dos três tipos de barcos em competição, este é o único destinado a dois tripulantes, uma vez que o 2.4mR é para apenas um atleta e o Sonar é para três.

No Skud18 é obrigatório que um dos elementos seja do género feminino e que tenha uma deficiência profunda, podendo o outro ter um grau de deficiência mínimo. É o que acontece com a dupla portuguesa, uma vez que Bento Amaral é tetraplégico e Luísa Silvano apenas tem limitações de movimentos numa das pernas.

Vela adaptada

Bento Amaral pratica vela adaptada desde 2001, mas só em 2007 começou a praticar em dupla com Luísa Silvano. O velejador admite que há possibilidades de se classificarem “entre os cinco melhores”, mas só com “muita sorte” conquistarão uma medalha. Bento Amaral reconhece também que a concorrência é muito profissional. “Os australianos e os americanos apenas se dedicam à vela, enquanto eu e a Luísa temos um emprego a tempo inteiro. Falta-nos tempo e mais competição, pois em Portugal não há barcos iguais ao nosso e só competimos a nível internacional”, explicou o atleta.

A nível de financiamento, Bento Amaral revelou que a dupla tem “99,9% das despesas cobertas”, através de um apoio privado dado à Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes (FPDD) para a modalidade de vela adaptada. “Temos sorte por haver esse investimento na vela e a nível de competição acaba por ser dirigido apenas para mim e para a Luísa”. O velejador acrescentou que a vela adaptada, por ser dispendiosa, “é o grande absorvedor de dinheiro da FPDD”. “Os corredores levam as sapatilhas num saco e nós levamos um barco num contentor, tem outro preço”, disse ao JPN.

Luísa Silvano considera que a prática do desporto promove a sua saúde “física e mental”. Lamenta, contudo, a pouca visibilidade que a vela adaptada tem em Portugal. “Poucas pessoas conhecem, mas hoje em dia começam a aparecer mais velejadores”. Bento Amaral estima que existam, em Portugal, cerca de uma centena de praticantes de vela adaptada.

Comparativamente com a vela tradicional, os barcos de vela adaptada têm de ser mais seguros e não podem virar. A prática da modalidade exige um menor esforço físico, mas em termos teóricos, técnicos e tácticos é muito semelhante à vela tradicional.

Afonso Amaral é o treinador da dupla em Skud18. É irmão de Bento Amaral e já foi treinador noutras classes. Na preparação para Pequim, o treinador informou que tem tido em consideração “as características de Pequim, de menos vento e corrente”. “Temos tentado treinar em zonas com características semelhantes”, explicou.

Bento Amaral começou a praticar vela com 11 anos, em 1980, e competiu até 1994, ano em que ficou tetraplégico devido a um acidente no mar. Tentou fazer uma “carreirinha”, isto é, nadar numa onda, mas foi projectado para o fundo e, ao bater com a cabeça na areia, partiu a quinta vértebra. Começou na vela adaptada em 2001, no “Access Liberty”, um barco individual comandado por um joystick. Foi vice-campeão do mundo da classe em 2004 e campeão do mundo em 2005.

Luísa Silvano tem uma má formação congénita na perna direita e pratica vela desde 2006. Quer o atleta de 39 anos, quer Luísa Silvano, de 50, representam o Clube de Vela Atlântico (Leixões).