Decorre hoje, domingo, o referendo que tem por objectivo questionar os cidadãos de Santa Cruz sobre a autonomia da região perante o governo central boliviano. O governo já anunciou que não terá em conta os resultados deste voto, que considera ilegal, assim como os daqueles que se lhe seguem, em Junho, em Tarija, Beni e Pando, as outras regiões da chamada Meia-Lua, onde se concentra a maior parte da riqueza do país.

Os líderes destas regiões opõem-se fortemente às políticas levadas a cabo pelo presidente Evo Morales. Para além da tentativa de conferir mais direitos às populações indígenas, o governo do Movimento para o Socialismo (MAS) aprovou uma nova constituição, em Dezembro passado, visando uma maior participação do Estado na economia e a nacionalização das terras. Já as classes mais desfavorecidas, camponeses, indígenas, mineiros e produtores de folha de coca, que são a maior base de apoio do MAS, têm, como seria de esperar, acolhido bem as medidas postas em prática pelo líder boliviano.

Teme-se que o resultado do referendo possa causar uma onda de violência. O prefeito de Cochabamba, Reyes Villa, acusou, na quinta-feira, o governo de financiar a mobilização dos produtores de coca. “Responsabilizo o governo por qualquer coisa que se passe em Cochabamba”, disse.“Não querem que a notícia de segunda-feira seja: grande vitória democrática em Santa Cruz, querem que a notícia seja: a violência ganhou na Bolívia”, acrescentou, citado pelo diário “La Razon”.

Entretanto, o descontentamento acentuou-se, quinta-feira passada, com a nacionalização da Entel, a maior empresa de telecomunicações a operar no país, e a emissão de um decreto que determina a compra pelo Estado de quatro companhias petrolíferas.

A Bolívia é dos países mais pobres da América do Sul. Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando, as províncias da Meia-Lua, concentram grande parte da riqueza do país, particularmente em Santa Cruz, a capital económica.