Segundo um estudo da Universidade do Minho, realizado pela psicóloga Ângela Maia e pela sua aluna de doutoramento Susana Silva, a taxa de suicídio, em Portugal, é mais elevada em indivíduos com obesidade mórbida que se submetem a uma cirurgia bariátrica do que na população em geral. A auto-estima, os preconceitos que estas pessoas sentem e as dificuldades de integração na vida social explicam os índices de mortalidade.

A conclusão surpreende o gastrenterologista António Sérgio que diz ser “precipitada“. “Eu acho que não há cá em Portugal evidência alguma que nos possa demonstrar que haja realmente taxa de suicídio [dos doentes de obesidade mórbida], nem mesmo os estudos feitos a nível mundial, não há nada que prove essa conclusão”, disse.

No entanto, Cármen (nome fictício), que faz parte dos 10% de casos de insucesso das colocações de banda gástrica em Portugal, contou ao JPN que durante os três meses em que esteve internada pensou em atirar-se “da janela abaixo”. “Não me apetecia ver nada nem ninguém, apenas estar sozinha e com as luzes todas apagadas”.

Para que a recuperação e a adaptação à banda gástrica seja eficaz, é necessário que haja um acompanhamento psicológico não só antes, mas sobretudo nos “primeiros tempos” após a cirurgia.

Ângela Maia admitiu, porém, que “há alguns casos em que não há esse acompanhamento”. Citando um investigador alemão, a responsável do estudo afirmou que “a cirurgia não é mais do que uma forma forçada de tentar modificar os hábitos alimentares das pessoas”, para que seja mais fácil a adaptação.

Com a banda gástrica, o indivíduo depara-se com a “impossibilidade de fazer aquilo que lhe diminui a angústia”. A investigadora Susana Silva concluiu que comer ajuda as pessoas a solucionar questões “mal resolvidas”.

Reduzir os números da balança e alterar os hábitos alimentares são os objectivos principais de alguém sujeito a uma intervenção da banda gástrica. Um sentimento desconfortável pode, no entanto, emergir nas pessoas porque “precisam de comer para se sentirem bem”. As pessoas ficam “sujeitas a pressões para não ingerirem determinados alimentos, deixando-as frustradas”, disse Ângela Maia.