Os alunos do primeiro ciclo do ensino superior vão poder ser integrados em projectos de investigação em empresas ou instituições científicas em Portugal. Esta é uma das novas medidas do programa de apoio ao desenvolvimento científico do Governo, que prevê também a criação de 50 cátedras convidadas e que dá continuidade à contratação de novos investigadores doutorados e à atribuição de bolsas de investigação para doutoramento.

As medidas, anunciadas esta segunda-feira, na Universidade de Aveiro (UA), representam 400 milhões de euros de investimento num prazo de três a cinco anos.

As 5 mil bolsas de integração para estudantes do ensino superior com bom desempenho serão financiadas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). A criação de 50 cátedras convidadas visa a celebração de acordos entre as universidades e empresas que cofinanciem a investigação, que deve atrair investigadores estrangeiros.

Uma aposta “inédita”

“Portugal já está na vanguarda da investigação europeia” em algumas áreas, afirma Alexandre Quintanilha, coordenador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC). “Esta aposta não tem igual em qualquer outro país no mundo”, defende o investigador, que louva o investimento na ciência, que não tem sido “controlado” como “o financiamento de outros ministérios”.

Os acordos para as primeiras duas cátedras foram assinados durante a cerimónia. A UA criou uma cátedra para a investigação na área das telecomunicações, com a Nokia-Siemens Networks, e outra para a investigação das energias renováveis, com a Martifer.

Sucesso pressupõe “aposta no conhecimento”

O primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou que “nenhum país terá sucesso sem apostar no conhecimento” e garantiu “uma política estável” de apoio ao desenvolvimento científico para “todos os que querem fazer carreira na ciência”. Salientou ainda que “a aposta na ciência não é para os cientistas, é para a sociedade, que só pode andar para a frente e ter melhores salários com mais conhecimento”.

De acordo com as estatísticas apresentadas pelo presidente da FCT, João Sentieiro, registou-se um aumento de 77% no número de bolsas para doutoramento e pós-doutoramento concedidas pela fundação, entre 2005 e 2007. Sentieiro referiu que este é um crescimento “nunca antes visto” no investimento na ciência, que, embora ainda esteja atrás da média europeia, vai trazer “sangue novo e renovação” à investigação científica em Portugal.

Gago pede “transparência” na contratação de professores

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior disse que a aposta na ciência é um “investimento em capital humano”. Mariano Gago acredita que o Governo está a “ganhar a confiança dos cientistas”. O número de jovens que entram para o ensino superior está “finalmente” a crescer, disse, assim como o número de alunos que escolhem áreas científicas ou tecnológicas no ensino secundário.

Mariano Gago manifestou ainda o desejo de que o “modelo de transparência e competição” dos concursos para bolsas de doutoramento se estenda “a todas as áreas científicas e universidades”. “Gostaríamos que as universidades não contratassem mais professores sem concurso e que os concursos fossem transparentes”, acrescentou.

Quanto à fuga de cérebros de Portugal para o estrangeiro, o ministro acredita que o facto de existirem muitos cientistas portugueses lá fora é sinal de que “são reconhecidos”. “Em contrapartida, também são precisos estrangeiros em Portugal”, afirmou.