A 14 de Maio de 1958, precisamente há 50 anos, Humberto Delgado fez tremer o governo de Salazar quando, no seu programa como candidato independente à Presidência da República, visitou o Porto e tinha à sua espera mais de 200 mil pessoas.

Visto como o libertador do regime opressivo da época, Humberto Delgado “tocou no coração de cada portuense”, referiu ao JPN, o neto do General, Frederico Delgado Rosa. “A partir desse dia o partidarismo salazarista percebeu que para parar o furacão Delgado era através da repressão e da violência”, frisou.

Por toda a parte se realizavam manifestações de apoio a Humberto Delgado, que de nada valeram ao “General Sem Medo”, visto que a 8 de Junho do mesmo ano perde o lugar de presidente para o Almirante Américo Tomás, que se manteve no poder até 25 de Abril de 1974.

Os anos que se seguiram foram de fuga e exílio do regime de Salazar. Humberto Delgado acabou por ser encontrado morto, juntamente com a sua secretária, em Villanueva del Fresno, Espanha.

“Delgado acordou as energias adormecidas”

“O meu coração ficará no Porto” foi a frase mais mediática que marcou a passagem de Delgado pela cidade, e que deu nome às comemorações dos 50º aniversário da visita do General ao Porto.

Numa missiva enviada à governadora civil do Porto, Isabel Oneto, Mário Soares, antigo advogado do “General Sem Medo”, caracterizou Humberto Delgado como um “herói e um mártir” que se tornou “incómodo para Salazar”.

Na sede onde Delgado apresentou a sua candidatura à Presidência, esteve também Artur Santos Silva que ressalvou a “coragem do libertador Delgado” ao “acordar a luz de energias revolucionárias que estavam adormecidas”.

Da comitiva fizeram parte também Rui Rio e o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, que se revelaram “orgulhosos” por assinalarem “marcos importantes que contribuíram para a liberdade”.

“Há uma palavra que é sinónimo de Humberto Delgado e essa palavra é Porto”

A chuva, “característica do Porto”, como considerou Santos Silva, não afastou os curiosos e convidados que se encontravam no largo da praça Carlos Alberto. A filha do “General Sem Medo”, emocionada, lembrou os tempos de glória do pai e não se esqueceu de assinalar o 100º aniversário da mãe concretizado, na passada terça-feira, deixando o repto para a existência de uma delegação no Porto da Fundação Humberto Delgado, que representa.

A cerimónia contou ainda com a presença do neto de Humberto Delgado, Frederico Delgado, que apresentou o seu livro “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. “Há uma palavra que é sinónimo de Humberto Delgado e essa palavra é Porto. Um cinquentenário é uma data por excelência. É como se o Porto estivesse à espera destes 50 anos sobre a visita de Humberto Delgado”, disse.