O responsável técnico pelo dojo Filipa de Vilhena, um dos mais antigos do karaté nacional, Miguel Osório, pratica a modalidade há 26 anos e integra, actualmente, o conselho técnico da Associação de Karaté do Porto.

Durante a carreira percorreu a modalidade até chegar a atleta de competição marcial. Para treinar no dojo Filipa de Vilhena faz 150 quilómetros em cada dia de treino, por ter de se deslocar de Viana do Castelo, onde reside, até ao Porto. No papel de treinador, Miguel Osório alerta para a necessidade de conduzir a modalidade para uma “cobertura mediática” que incentive patrocínios.

O Karaté português tem evoluído no quadro internacional, mas este facto reflecte-se nos apoios às equipas?

De maneira nenhuma. Conheço o caso de atletas de nível internacional que não puderam levar o treinador para competições importantes porque não havia dinheiro. Temos cada vez mais praticantes e em termos internacionais o karaté português nunca esteve tão bem, mas em termos de organização ainda estamos numa fase inicial.

O que explica a falta de apoios para a modalidade?

A modalidade não tem ainda grande cobertura mediática, logo não há patrocínios. Por vezes, quando há competições o atleta paga as despesas do próprio bolso. Só uma exposição que proporcionasse dividendos poderia chamar investidores.

O Governo pode ter papel importante nesta área?

O Governo apoia a federação, mas não como devia. Há modalidades mais beneficiadas do que outras. No caso dos dojos é difícil porque não podemos dar grandes retornos, mas em termos de associação regional é uma questão de organização mais aplicada.

Que as condições de prática da modalidade têm os atletas do dojo que treina?

O dojo Filipa de Vilhena existe há muitos anos e tem resistido a todas as dificuldades. Infelizmente, não temos as melhores condições. Os atletas pagam um valor mensal apenas pelo aluguer do espaço de treino, mas tenho atletas de pódio que não sabem se vão ao nacional por este, possivelmente, acontecer em Lisboa.

Teriam de ser os atletas a suportar as despesas?

Sim e uma competição nacional obriga a grandes despesas. Não só a deslocação como a estadia no local da competição. Alguns atletas já me disseram que se a competição for no Porto vão competir e dar o melhor, mas que se for em Lisboa para não contar com eles.

O que motiva os atletas a permanecer na modalidade?

É o espírito de família que os prende e do qual me orgulho. Todos se ajudam. O karaté depende da dedicação do atleta. Aparecem talentos naturais, mas estes só vingam se tiverem carácter.