Já passaram 12 dias desde a devastação provocada pelo ciclone Nargis na Birmânia e as restrições impostas pela junta militar no poder continuam. Chris Kaye, funcionário das Nações Unidas destacado em Birmânia ao serviço do Programa Alimentar Mundial, afirmou que “os militares ergueram mais postos de controlo, de modo a terem a certeza de que os estrangeiros não chegariam às zonas afectadas”.

A ONU já anunciou que “a catástrofe é de proporções monumentais e que só poderia ser minimizada se os socorros fossem na escala verificada aquando do tsunami de 2004 no Oceano Índico.” No entanto, os últimos dias em nada alteraram a posição da junta militar birmanesa que continua empenhada em dificultar a ajuda externa.

O primeiro-ministro tailandês, Samak Sundaravej, esteve reunido, na quarta-feira, com o seu homólogo birmanês, Thein Sein, mas a sua tentativa de sensibilizar os chefes da junta militar no sentido de aceitarem a ajuda internacional redundou num fracasso.

A preocupação internacional face à situação que se vive na Birmânia tem vindo a crescer nos últimos dias e sofreu esta quinta-feira um acréscimo face à possibilidade de uma segunda tempestade tropical se abater sobre a região. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, “a época das monções está a aproximar-se e os períodos de chuva intensa irão tornar-se mais frequentes.”

Neste momento, e apesar da Cruz Vermelha Internacional classificar a possibilidade de novas tempestades como “o pior cenário imaginável” e de Tim Costello, da organização australiana Word Vission, ter dito em declarações à Al Jazira que se vive uma situação “apocalíptica”, a junta militar birmanesa continua a defender que não há surtos epidémicos nem fome.

Até ao momento estão confirmados 34 mil mortos na sequência do ciclone Nargis que há 12 dias passou pela região da Birmânia. Mas as consequências deste desastre natural continuam imprevisíveis, face ao elevado número de desaparecidos.

Gordon Brown pede cimeira e intervenção directa de Ban Ki-moon

O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, pediu, face ao actual momento, uma cimeira extraordinária para responder ao desastre ambiental e humanitário que afectou, e afecta, a Birmânia, à semelhança do que sucedeu em 2004 depois do tsunami que atingiu vários países asiáticos.

Gordon Brown solicitou ainda que Ban Ki-moon, secretário geral das Nações Unidas, se deslocasse pessoalmente às regiões devastadas. O apelo surge depois de na terça-feira, e segundo Brown, a União Europeia não ter levado à prática a cláusula sobre a responsabilidade da comunidade internacional de intervir num Estado que está a falhar no seu dever de proteger a sua população.

França envia navio com material de ajuda humanitária

Apesar das fortes barreiras levantadas pelos militares birmaneses, saiu esta madrugada de Chennai, na Índia, um navio da marinha francesa com mais de mil toneladas de material de ajuda humanitária, como declarou o Estado-Maior das Forças Armadas em Paris.

Christophe Prazuck, do Estado-Maior das Forças Armadas, afirmou que “o tempo de viagem previsto é de três dias” e que “o plano para a entrega da ajuda está a ser feito”, apesar das autoridades birmanesas ainda não terem autorizado a distribuição dos materiais.

A bordo do navio estão alimentos e água potável, bem como medicamentos de emergência, disse Christophe Prazuck, que podem ajudar mais de 60 mil vítimas do ciclone Nargis.