Os Negativland não são uma banda: são todo um programa envolto, desde cedo, em controvérsia. O colectivo norte-americano surgiu no final dos anos 70, mas viu-se, 20 anos mais tarde, numa situação de algum reconhecimento público devido a problemas com os direitos de autor.

É que os Negativland não pedem autorização a ninguém para usar excertos de músicas, como aconteceu com “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” dos U2, o que lhes valeu um processo da editora da banda irlandesa em 1991 e que se arrastou durante cerca de cinco anos.

O grupo vai estar no auditório de Serralves este domingo, às 22h00, para apresentar o seu espectáculo “It’s All In Your Head FM“. Trata-se de uma performance em formato de programa de rádio que aborda, de uma forma contemporânea, a religião e o monoteísmo em colisão com o pragmatismo político, fruto da realidade que se vive nos Estados Unidos desde o 11 de Setembro de 2001.

“É claro que não pedimos autorização”

Mark Hosler, membro fundador do colectivo, esteve esta sexta-feira na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), juntamente com o seu colega de grupo Don Joyce, e defendeu que é preciso alterar a lei dos direitos de autor, ao mesmo tempo que mostrou algumas das obras mais controversas dos Negativland.

A sessão começou com um vídeo sarcástico que equipara o download ilegal a, por exemplo, roubar carne no supermercado. O espectador mais atento podia notar a ironia presente na ameaça “Basta visionar este DVD para violar a lei”.

Quando o grupo nasceu, “nos tempos em que ainda não havia computadores com copy / paste nem YouTube”, a pesquisa de sons para as montagens era feita através da audição das velhinhas cassetes e a mistura de sons alheios provinha do corte e colagem das fitas, contou Mark Hosler.

Hoje em dia, com tantos sons e imagens a invadir os nossos sentidos a toda a hora, Mark conta como é que é feita a selecção do material a usar nos trabalhos dos Negativland: “Há 27 anos que fazemos, nos Estados Unidos, um programa de rádio, o Over The Edge [onde surgiu “It’s All In Your Head FM”] e, no fim de cada sessão, catalogamos e guardamos o material. Quando vamos gravar, é só escolher”, esclareceu Hosler, acrescentando: “E é claro que não pedimos autorização para usar nada disso”.

A razão porque os Negativland não pedem autorização para usar material, como aconteceu com a canção dos U2, uma garrafa de Pepsi ou a imagem da Pequena Sereia, registada pela Disney, é explicada por Hosler desta forma: “Mesmo que tiremos partes de material alheio, combinamos as partes de uma forma nossa, e que origina um produto original”.

Indústria musical está “a desmoronar-se”

Em três décadas de trabalho, as coisas mudaram. “Agora, com tantos filmes e álbuns inteiros a serem pirateados, as preocupações com as colagens diminuíram”, afirmou Mark Hosler, que é contra o uso de trabalhos inteiros sem permissão dos autores. “Além disso, as editoras perceberam que não temos dinheiro e desistiram de nos processar”.

É notório que a indústria da música está em mutação, “a desmoronar-se”, disse, elogiando certas alterações provenientes das actuais mudanças: “Agora os músicos estão a tentar ser mais independentes, a ter as suas próprias editoras ou a produzirem eles mesmos” e, consequentemente, a lucrar o dinheiro do seu trabalho sem ter de o dividir com tantos intermediários.