O projecto do futuro Centro Cultural de Gaia foi aprovado na passada quinta-feira em reunião extraordinária do executivo camarário. O projecto da Novopca, Construtores Associados, a única empresa que concorreu ao concurso público, aberto em 2003, foi aprovado pela maioria PSD/CDS, mas com voto contra da CDU.

O futuro centro vai ser criado nas antigas instalações da Real Companhia Velha, na marginal ribeirinha de Gaia, que foram concessionadas à Novopca por um período de 50 anos. A empresa vai investir 25 milhões de euros no edifício, que vai conter um hotel, várias galerias de arte, uma livraria, estabelecimentos comerciais e de restauração e um grande auditório, numa área total que ronda 30 mil metros quadrados. Vai ser cedida à câmara uma área de 500 metros quadrados para iniciativas culturais.

No entanto, o projecto aprovado afasta-se do projecto inicial, que sofreu várias alterações. As 13 salas de cinema previstas foram substituídas pelo hotel e vai ser construído um parque de estacionamento com capacidade para 200 automóveis, e não para 650.

Firmino Pereira, vereador dos equipamentos públicos, justificou a eliminação dos cinemas pela “falta de captação de interesse do ponto de vista comercial”, sublinhando que se deu lugar a “outras valências”. A redução do estacionamento deveu-se a uma exigência do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, antigo IPPAR).

O vereador espera que o futuro centro sirva de “mola de desenvolvimento daquela zona” e aponta para Outubro de 2009 a data de conclusão da obra.

“Não é um centro cultural: é um centro comercial com hotel”

O projecto não contou com a aprovação da CDU-Gaia. Em declarações ao JPN, a vereadora Ilda Figueiredo sublinhou o descontentamento da CDU em relação ao projecto aprovado. “Não é um centro cultural: é um centro comercial com hotel. Nós queríamos um centro cultural naquelas instalações, que têm um alto património cultural”, sublinhou a também eurodeputada.

Ilda Figueiredo ressalva que “o que a maioria PSD ‘vendeu’ foi um centro cultural”, e “não o que está agora” agendado. “É um centro comercial sem cinemas, sem espaços de animação e de intervenção cultural”, justifica.

Em reacção a estas declarações, o vereador Firmino Pereira respondeu que a perspectiva da CDU está “completamente errada”, porque não se trata de um centro comercial. “Tem várias valências dedicadas a espaços culturais: o hotel, a livraria, as galerias. E o hotel é essencial para o turismo de Vila Nova de Gaia”, explicou o vereador.

Na opinião de Firmino Pereira, “a CDU queria que a câmara tomasse conta da obra”, o que seria “incomportável” por se tratar de “um investimento de 25 milhões de euros”. “A CDU tem uma visão ‘estatatizada’ da cultura”, conclui.

Em resposta, Ilda Figueiredo sublinhou ao JPN que a cultura não é a dominante do centro. “Os espaços culturais são recantos. A dominante é restauração, lojas e um hotel”.

A vereadora afirma que a CDU “não tem nada contra a iniciativa privada, quando se trata de uma iniciativa que cria empregos com direitos dignos”. Ilda Figueiredo considera “inaceitável” que a “câmara esqueça a construção de equipamentos colectivos e sociais” e que “dê toda a prioridade a convencer investigadores estrangeiros a fixarem-se em Gaia com a promessa de isenção de impostos municipais”.

Ilda Figueiredo recorda a situação do projecto para a antiga Destilaria do Álcool, também na zona ribeirinha de Gaia, em que à multinacional Squarestone foi garantida isenção de 80% das taxas municipais.