O presidente executivo da Galp, Ferreira de Oliveira, declarou, esta terça-feira, em conferência de imprensa que “gostaria que a carga fiscal” sobre os combustíveis “fosse aliviada”, de forma a baixar os preços da gasolina e do gasóleo.

Embora a companhia tenha registado um lucro no primeiro trimestre deste ano de 109 milhões de euros (1,2 milhões de euros diários), o presidente garante que se o preço dos combustíveis continuar a subir a Galp Energia irá proceder à “diminuição” do número de postos de abastecimento no país.

Atitude que o presidente da ANAREC (Associação Nacional de Revendedores de Combustível), Augusto Cybrom, considera ser “demasiado drástica”. “Se vai fechar os postos que foram seus clientes 20, 30 ou 40 anos e aos quais ele fez concorrência directa, abrindo postos da Galpgeste mesmo a 2 quilómetros e 1 quilómetro, ou às vezes a menos, acho muito mal, é uma irresponsabilidade terrível estar a pôr gente no desemprego”, declarou ao JPN o presidente da ANAREC.

Relativamente à diminuição da carga fiscal, Augusto Cybrom diz que Ferreira de Oliveira não é o primeiro a sugeri-lo, uma vez que ele próprio já “andar a pedir isso há mais de um ano”.

O ministro das Finanças rejeitou, porém, num discurso proferido terça-feira na Câmara de Comércio Luso-Espanhola, a redução do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP) e outras medidas “que seriam meros paliativos perante as transformações estruturais que estamos a observar”.

Boicote seria “deplorável”

Apesar das críticas às empresas petrolíferas, que acusa de praticarem preços especulativos, o presidente da ANAREC discorda da tentativa de boicote à Galp (ideia que tem circulado pela Internet), considerando-a uma “acção deplorável”.

“Os postos de abastecimento de bandeiras petrolíferas pertencem a maior parte deles a revendedores ou concessionários, uns que investiram todo o dinheiro para construir o seu posto e outros que pagam taxas enormes na pequena margem que têm para poderem explorar esses postos, que são das companhias. O boicote não vai prejudicar as companhias. Vai, sim, fazer com que esses postos, que já hoje vivem mal, abram falência num mês ou em dois”, sustenta.

Augusto Cybrom aponta o dedo à dualidade de preços aplicada pela Galp. “Alguma coisa não está certa: a Galp tem dois preços, um para o mercado nacional e outro para o mercado dos Estados Unidos. Não acredito muito sinceramente que nenhuma petrolífera compre um barril de petróleo a 130 dólares, isso são 70 e tal e 80 euros”, rematou.

“A situação é global”, diz APETRO

Por sua vez, José Horta, secretário-geral da APETRO (Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas) diz que “o senhor presidente da Galp expressou a sua própria opinião, não expressou uma opinião em nome da APETRO”. “A APETRO tem como posição formal segundo a qual os governos têm legitimidade para aplicarem a política fiscal que bem entendem, no momento que pensam ser o mais adequado”.

Na opinião de José Horta, “não há ninguém especial a quem culpar pela situação actual dos combustíveis. A situação é global, é mundial, Portugal não pode fugir a ela”. “Apesar de lamentar que os combustíveis tenham chegado a este nível, não vejo o que é que um boicote possa transmitir aos verdadeiros decisores desta matéria”, afirmou.

Contactado pelo JPN, o Ministério da Economia avançou que “vai esperar pelo estudo da Autoridade de Concorrência” antes de tomar qualquer tipo de decisão. A Galp não prestou qualquer tipo de declarações.