O endividamento das famílias portuguesas atingiu, no ano passado, o valor mais alto dos últimos 13 anos, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira 2007 (em PDF), emitido, esta terça-feira, pelo Banco de Portugal.

No documento constata-se que as dívidas dos particulares subiram para 129% do rendimento disponível, totalizando assim mais de uma década de aumentos anuais consecutivos. No que respeita às empresas, o endividamento das sociedades não financeiras corresponde a 114% do PIB, o valor mais elevado dos últimos dez anos.

“A turbulência que se tem manifestado nos mercados financeiros internacionais
constitui, pela sua abrangência e duração, um dos episódios mais severos da história recente”, diz o relatório, que acrescenta que “a situação pode qualificar-se sem precedentes”.

Portugal surge assim inserido num contexto em que “os bancos que asseguram a maior parte do financiamento do sector privado não financeiro, passaram a desenvolver a sua actividade num ambiente substancialmente menos favorável no que se refere ao seu financiamento nos mercados internacionais por grosso”.

BCE poderá subir taxas de juro para combater inflação

João Loureiro, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) diz que o endividamento das famílias pode levar levar a uma implicação muito séria. “O Banco Central Europeu pode perfeitamente subir as taxas de juro de forma a combater a taxa de inflação e isso significará grandes dificuldades porque quanto maior é a dívida, maiores serão os encargos financeiros. O rendimento que sobra às famílias depois de pagarem os seus compromissos, tenderá a diminuir”, explicou.

Portugal não pode escapar à conjuntura internacional global

Ainda segundo o Relatório de Estabilidade Financeira 2007, “quando avaliada a materialização do risco de crédito em termos do fluxo de créditos que entraram em incumprimento em 2007, observa-se um aumento significativo no caso dos empréstimos a empresas e, no caso dos particulares, uma estabilização num nível semelhante ao do ano anterior e próximo do observado em 2003”.

Face a estes dados, João Loureiro garante que ainda que “a situação de incumprimento tenha aumentado ligeiramente, não há de facto uma situação dramática”. “Digamos que, em termos de incumprimento, estamos dentro dos parâmetros normais”, afirmou. Portugal, na opinião do docente não pode escapar à “conjuntura internacional global”.

“A situação económica actual está-se a degradar por diversas razões que até nos são exógenas, nomeadamente o caso do aumento do preço dos combustíveis e dos bens agrícolas. Tudo isso são factores que estão a afectar a conjuntura portuguesa, que estão a afectar a produção e o emprego”.

Questionado sobre o futuro, João Loureiro preconiza que “a situação económica se vai degradar ainda mais”. “As crises que actualmente existem a uma escala global vão ter impacto sobre todos os países e naturalmente sobre a economia portuguesa e esse impacto, como aliás o próprio Banco de Portugal alerta, provavelmente far-se-á sentir mais em 2009 do que propriamente em 2008”, rematou.