O protesto de armadores e pescadores contra a falta de apoios ao sector e os preços actuais dos combustíveis está a aumentar de tom. O ministro da Agricultura e Pescas, Jaime Silva, e as associações de pesca nacionais não chegaram a acordo na reunião convocada pelo ministério desta quarta-feira. Jaime Silva rejeitou a hipótese de se baixarem os preços dos combustíveis para as embarcações.
Miguel Cunha, da Associação dos Armadores da Pesca Industrial (Adapi), afirmou ao JPN que “mantêm-se” as razões de queixa dos profissionais do sector. “O Governo disse apenas que estaria disponível a conversar connosco depois”, realçou.
Em França, os pescadores já estão paralisados há 20 dias. Às 00h00 de sexta-feira é a vez de Portugal, Espanha, Itália, Reino Unido, Holanda e Bélgica se juntarem ao protesto.
Os sindicatos de pesca nacionais dizem que o “sector está asfixiado” com as diversas taxas e impostos, directos e indirectos, das capitanias, da Docapesca e do Instituto Portuário. Exigem que o Governo tome medidas e que ajude os armadores e pescadores a combater os sucessivos aumentos do preço dos combustíveis.
Paulo Dourado, mestre de uma embarcação de pesca local, a “Coração de Jesus”, sintetiza um sentimento generalizado no sector: “Isto já deu o que tinha a dar, agora está muito fraco. Não sei como a situação vai ficar daqui para a frente”.
António Macedo, secretário-geral do Sindicato Trabalhadores das Pescas do Norte, afirmou em conferência de imprensa esta quarta-feira, em Vila do Conde, que “o único problema não é dos combustíveis, este só veio agravar ainda mais a situação do sector das pescas português”. “Os pescadores actualmente ganham menos que há 10 anos”, realçou.
Situação semelhante na Galiza
As associações portuguesas de pesca reivindicam ajudas semelhantes às que são atribuídas em países como França ou Espanha. António Macedo referiu que Portugal não atribuiu os “mínimos”, que são “um valor de ajuda directa às empresas” e que os estados da União Europeia (UE) estão autorizados a disponibilizar.
Na reunião no ministério da Agricultura e Pescas, desta quarta-feira, os armadores e pescadores propuseram duas linhas de acção, segundo Miguel Cunha, que foram “a isenção da taxa social única e uma linha de crédito bonificada”. “O senhor ministro não propôs nada, só disse que ia ponderar a possibilidade da linha de crédito”, afirmou o presidente da Adapi ao JPN.
Armadores e pescadores chamaram ainda a atenção para a situação em que vivem os “camaradas” com embarcações de pesca local, que pagam a gasolina ao preço do cidadão comum. “Ando a pagar a gasolina ao preço que os outros andam a passear. Isto não tem jeito nenhum, eu estou a dar lucro ao Estado”, critica Paulo Dourado, mestre da embarcação “Coração de Jesus”.
Xavier Aboim, da Federação dos Sindicatos do sector da pesca e congéneres da Galiza, afirmou, na conferência de imprensa em Vila do Conde, organizada pelo Sindicato Trabalhadores das Pescas do Norte, que na Galiza “a situação é igual à portuguesa, o sector pesqueiro não é o culpado, mas os governos”.
O armador galego referiu ainda que a luta nos dois lados da fronteira deve passar por medidas fortes, como o encerramento de portos e embargo às exportações, para assim impedir a chegada de peixe de outros países não comunitários.