Apresenta-se como um “serviço especializado de apoio à comunidade”, destinado a jovens com comportamentos de risco, mas também a adultos, famílias, empresas e instituições públicas. O Projecto Integrado de Apoio à Comunidade (PIAC) abriu em Janeiro, no Porto, fruto de uma iniciativa da Delegação Regional do Norte do Instituto da Droga e da Toxicodependência.

Oferece à comunidade serviços de psicologia, psiquiatria, pedopsiquiatria, consultadoria, formação e consultas de terapia familiar. Os utentes podem ser “auto-referenciados” (se acorrerem ao PIAC por iniciativa própria), mas são na sua maioria jovens enviados por outras instituições, como escolas, tribunais, lares de acolhimento e comissões de protecção de menores. O gabinete de Psicologia da Universidade do Porto também já encaminhou estudantes para o PIAC.

Abandono e insucesso escolar, iniciação ao consumo de estupefacientes, problemas familiares, bullying e delinquência juvenil são as áreas de intervenção mais comuns. Depois de uma primeira consulta de triagem, o paciente é encaminhado para o tipo de terapia que mais necessite, podendo até trabalhar em conjunto com a família no gabinete de terapia familiar, explica a coordenadora do projecto, Albina Sousa.

O PIAC veio preencher um “fosso enorme” no tratamento e prevenção dos “comportamentos de risco”. “Nós temos é de prevenir, é esse o caminho, e os políticos deviam estar mais atentos a esta vertente. Os ‘desconsumos’ [através da metadona, por exemplo] são um remedeio”, considera a também psicoterapeuta.

Por se tratar de um projecto que oferece tratamentos multidisciplinares, o PIAC foi considerado pelo Grupo Pompidou (um órgão do Conselho da Europa que luta contra o consumo e tráfico de drogas) como um projecto “inovador” a nível europeu. “Evidentemente que há muitas consultas para jovens, mas específicas, não com esta abrangência”, explica Albina Sousa.

A área de intervenção do PIAC estende-se também a empresas e instituições públicas ao fornecer serviços de formação e apoio psicológico a funcionários. Neste momento, três universidades estão a dar formação à equipa do PIAC em diversas áreas para, mais tarde, o projecto organizar acções de formação abertas a todos os docentes e técnicos interessados.

461 processos em cinco meses

Desde que abriu, o PIAC já instituiu 461 processos, com origem em 26 concelhos da área Norte, incluindo da região do Entre Douro e Vouga. Um número que Albina Sousa considera “um bocadinho preocupante”. A coordenadora salienta que a equipa é “pequena” e que tentam dar um serviço “qualitativo”, isto é, consultas que durem “no mínimo” uma hora, o que dá, “no máximo dos máximos”, sete consultas por dia.

“Quando estivermos saturados temos de exigir mais pessoal ou então pararmos um bocado, o que é uma pena. Os colegas já se estão a queixar que têm consultas a mais. Estamos muito preocupados porque não estávamos à espera. Mas demo-nos conta que era essencial!”, confessa Albina Sousa.

A coordenadora sublinha que o PIAC funciona em moldes pró-activos e de “boas práticas”. “O tempo de espera para a primeira consulta é de oito dias, no máximo 15, e tentamos ir à procura das situações e não estarmos à espera que venham ter connosco”, salienta.

“Vamos começar a intervir muito nas discotecas à noite, como fizemos na Queima [das Fitas do Porto], onde os nossos colegas andaram toda a noite com os estudantes no sentido de lhes dar a perceber que podem consumir álcool mas quanto baste”, diz Albina Sousa. Estas intervenções terão também o objectivo de tentar chegar aos jovens que consomem substâncias como o ecstasy.

O projecto já está a ser replicado em Viana do Castelo e em Santa Maria da Feira. Em Outubro, o PIAC vai deixar a Avenida da Boavista e mudar-se para outras instalações, junto ao Hospital Militar da Boavista.