O Presidente da República, Cavaco Silva, contrariou esta sexta-feira a posição defendida por Jaime Silva, que diz que não vai reforçar o subsídio ao gasóleo utilizado pelos pescadores.

No primeiro dia da paralisação do sector, Cavaco defendeu mais apoios para o sector das pescas, cuja actividade sofreu actualmente um forte impacto com o agravamento do preço dos combustíveis.

Considerando que este grupo profissional foi o que sofreu mais com a escalada do preço dos combustíveis, afirmou, citado pela Lusa, que “o que pode ser feito são respostas selectivas para tentar ajudar os grupos mais desfavorecidos que têm dificuldade a ajustar-se à nova situação”.

O ministro da Agricultura, Jaime Silva, garantiu esta quinta-feira que não irá faltar peixe em Portugal. Os vários sindicatos ligados ao sector afirmam que não sabem como é que o ministro consegue garantir isso. Ao JPN, António Macedo, do Sindicato dos Trabalhadores das Pescas do Norte, disse que o ministro está a “tentar ludibriar a opinião pública, pois ele não gosta do peixe das nossas águas, mas sim do de aquacultura”.

Também esta sexta-feira, a Comissão Europeia reconheceu que, depois da paralisação de vários países da Zona Euro, entre os quais Portugal, que a política comum para o sector das pescas é um fracasso e propôs novas regras, como um sistema de limites ao consumo energético diário, em vez do sistema de limitação do esforço de pesca.

Paralisação total

O sector das pescas paralisou esta sexta-feira e assim vai continuar até que o Governo satisfaça as exigências dos pescadores, avisam os sindicatos, que calculam que 20 mil profissionais e 7 mil embarcações tenham ficado em terra.

Às 00h00, Portugal juntou-se a países como França (cujo sector pesqueiro parou há mais de 20 dias), Espanha, Itália, Bélgica, Holanda e Reino Unido, na luta contra o aumento do preço dos combustíveis e da falta de apoios, dos respectivos governos, ao sector.

António Macedo, do Sindicato dos Trabalhadores das Pescas do Norte, afirmou ao JPN que a paralisação atingiu os 100%. Mas, segundo a Agência Lusa, os pescadores de Esposende não aderiram, pois afirmam que “pouco têm a ver com a luta dos restantes operadores” e por não terem direito a qualquer apoio ou subsídio.

Os efeitos da paralisação já se estão a fazer sentir de Norte a Sul do país. Em algumas zonas, o preço do pescado aumentou. Na Figueira da Foz, por exemplo, o preço da sardinha quadruplicou.

Segundo Domitília Lopes de Almeida, secretária-geral da Associação dos Comerciantes de Pescado, este factor deve-se ao facto de “aparecer sempre um ou outro especulador que aumenta o preço, mas também se deve à falta de peixe que já se sente em algumas lotas e mercados nacionais”.

Protestos na Europa

Em Portugal a paralisação está a ser calma, contrariamente a Espanha e a França. No caso espanhol, os pescadores vão “despejar” 20 toneladas de peixe em frente do ministério do Meio Ambiente, Meio Rural e Marinho. Os franceses chegaram a bloquear o acesso, durante uma semana, a uma refinaria de petróleo. “Em França quando é para fechar fecham, não é como aqui. Em Marselha existem restaurantes a fechar devido à falta de peixe”, realçou Fernando João, contra-mestre de uma embarcação francesa.

Fernando João disse ao JPN que a paralisação dos pescadores franceses poderá terminar segunda-feira com um possível acordo entre o governo e os contestatários. Em Itália, a falta de peixe também está a ser sentida – segundo o jornal “La Repubblica” , o mercado de peixe de Saumaty, em Marsiglia, já está vazio.