António Borges criticou, esta segunda-feira, o “imobilismo” presente nos ritmos de inovação em Portugal, e que deixam o país muito afastado do topo europeu. O economista e ex-vice-presidente da Goldman Sachs foi convidado para abordar, numa conferência integrada no 5º Encontro Nacional de Inovação COTEC, no Porto, o tema da “Inovação, Risco e Financiamento: Os próximos desafios”.

Entre as críticas feitas à falta de inovação está a política de investimento económico. “Com COTEC ou sem ela não há grandes hipóteses de haver inovação em Portugal a não ser que se mudem algumas políticas”, afirmou, destacando a importância da existência de empreendedores dispostos a arriscar em novos projectos.

Nesta espécie de “aula” sobre inovação, António Borges afastou a hipótese de Portugal seguir o modelo de crescimento económico de países emergentes como a China, sublinhando que, nos países desenvolvidos, o segredo está, “não em ter o maior número de fábricas, mas sim que cada uma apresente soluções novas. Caso contrário pode ser contraproducente”.

Para o ex-vice-presidente da Goldman Sachs, “é na Europa que temos de ir buscar o nosso modelo”, dando como exemplo a Irlanda, Dinamarca, Finlândia e Noruega, e afastando o exemplo de crescimento económico verificado em Espanha que, segundo o conferencista, “vai agora pagar pela sua política de crescimento”.

”A burocracia mata a inovação”

António Borges desmistificou a ideia de que a inovação só é possível com investimentos avultados. “O investimento não é a chave do crescimento económico, mas sim os saltos qualitativos na tecnologia”, afirmou.

A política de investimentos do Governo mereceu críticas do social-democrata pelo “esbanjar de biliões em infra-estruturas” como auto-estradas ou o TGV, que, para Borges, teriam sido melhor aplicados no financiamento a empresas inovadoras.

A solução para o crescimento na inovação também não está nas empresas que já existem, mas sim no nascimento de novos projectos, com uma política e tecnologia mais actualizadas. António Borges destacou ainda a necessidade de haver risco na aposta de novos projectos e criticou o aparelho burocrático português. “É fundamental que não haja barreiras burocráticas, assim mata-se a inovação”, afirmou.

O encontro encerrou com a divulgação pública do prémio produto inovação COTEC-Unicer, seguido de um discurso proferido pelo Presidente da República, Cavaco Silva.