Percorrer o Porto de olhos vendados, de cadeira de rodas, de transportes públicos, a pé, de carro, de bicicleta ou enquanto turista estrangeiro. Sete perspectivas diferentes, utilizadas por um grupo de quatro alunos do Colégio dos Órfãos do Porto para fazer um diagnóstico dos problemas da cidade. A ideia valeu-lhes o primeiro prémio no concurso Cidades Criativas, uma iniciativa promovida pela Universidade de Aveiro (UA) que desafiou alunos do 12º ano a reflectir sobre o meio em que vivem.

No âmbito da disciplina de Projecto, os alunos Ana Nunes, Joana Gouveia, Pedro Sequeiros e Pedro Meireles, coordenados pela professora Maria de Lourdes Leitão, formaram o grupo “Invictus”, com o objectivo de tornar a cidade “mais humana e contornar os seus pontos fracos”.

Com o propósito de “ver a cidade de diferentes moldes”, percorreram o Porto de sete maneiras diferentes. Um trajecto efectuado pelos próprios alunos, que, por exemplo, vendaram os olhos para perceber as dificuldades de um cego.

“Durante estes percursos, sempre que fazíamos uma paragem, fazíamos uma filmagem”, recorda Ana Nunes. Os resultados do trabalho foram publicados no blogue do grupo. Em paralelo a este projecto, realizaram também entrevistas junto de responsáveis autárquicos ou de portuenses “relativamente famosos”, como o escritor Mário Cláudio.

Um metro quadrado por portuense

As conclusões gerais foram apresentadas em três reflexões sobre a animação urbana, a mobilidade dentro da cidade e a sensibilização da população. Ideias como o apadrinhamento de um metro quadrado do Porto por cada portuense ou aulas de Braille e de Linguagem Gestual nas escolas são apresentadas como possíveis soluções para a cidade. O resultado do projecto, que durou nove meses, foi reunido num livro “Invicta – uma cidade, muitas perspectivas”, que contou também com uma edição em Braille.

Com o ano lectivo na recta final, a aluna Ana Nunes salienta que o projecto vai continuar. “O trabalho de reflexão parou por aqui. Agora o que vamos tentar fazer é que o projecto chegue a todo o lado. Queremos passar o projecto para quem tem dinheiro e influência porque ficar no papel é frustrante”, garante.

Maria Lourdes Leitão, a professora que coordenou o projecto, salienta que este trabalho ajudou os alunos a “crescer, na verdadeira acepção da palavra” e que a equipa “dedicou-se e trabalhou imenso”. Além de ter vencido o concurso Cidades Criativas, o grupo “Invictus” ganhou o prémio de transformação urbana, o prémio Câmara do Porto e obteve uma menção honrosa no galardão de melhor blogue.

“Cidades Criativas” pôs “as coisas a mexer”

Durante cerca de nove meses, mais de 1500 alunos, repartidos por 460 equipas e com a ajuda de 275 professores, tentaram responder ao mote do concurso “Cidades Criativas”. O objectivo estava traçado: “pôr as coisas a mexer”, diz José Carlos Mota, membro da comissão organizadora e professor da UA.

A entrega de prémios realizou-se na quarta-feira, 4 de Junho, em Aveiro. Com o projecto ainda em “fase de encerramento”, José Carlos Mota afirma que o objectivo é que “as autarquias avaliem a qualidade das ideias” que foram apresentadas. O professor espera que os trabalhos estimulem “as comunidades a pensar no futuro” e as autarquias a “implementar um conjunto de acções”.

José Carlos Mota dá o exemplo da Câmara de Braga, que remodelou um parque em conjunto com uma equipa da escola secundária da cidade, o que prova que os projectos “foram um exercício partilhado e saíram da escola para a comunidade”.