A Irlanda, o único país da União Europeia (UE) a levar a referendo o Tratado de Lisboa, vota esta quinta-feira, num momento de elevada preocupação para Bruxelas. Uma sondagem publicada no passado domingo pelo jornal “Sunday Business Post” dava 42% da população como sendo favorável ao tratado, contra 39% que se opõe. Contudo, 19% dos votantes continuavam indecisos.

Os principais partidos do país apelaram ao “sim” no referendo, que se realiza por obrigação constitucional. A campanha pela resposta negativa ao tratado, porém, conseguiu mobilizar um grande número de irlandeses, tornando os resultados imprevisíveis. Em 2001, aquando da aprovação do Tratado de Nice, a Irlanda votou contra a aplicação do documento. O tratado foi sujeito a um segundo referendo, tendo sido aí aprovado.

Um factor apresentado como decisivo para o voto desta quinta-feira é o da abstenção. Caso haja uma participação acima dos 40% há fortes possibilidades que o tratado seja aprovado. Há receios em Bruxelas do que fazer caso a Irlanda diga “não”, uma vez que todos os países da UE precisam de ratificar o Tratado de Lisboa para este entrar em vigor.

Em conferência de imprensa, citada pelo diário “Irish Times”, o primeiro-ministro irlandês Brian Cowen afirmou que “temas irrelevantes” estavam a ser usados pela campanha do “não” para “reunir apoio para a sua causa, criar confusão acerca das provisões do tratado, aumentar o medo e as preocupações [da população] num esforço para ganhar apoiantes”.

“Depois de 35 anos a respeitar e a ajudar a Irlanda, a UE ganhou o direito de não ser vista como uma ameaça para nós e eu acredito que o povo irlandês vai reflectir sobre isto ao examinar os argumentos dos dois lados da campanha”, disse Cowen na quarta-feira, citado pelo jornal online EUObserver.

Os opositores do Tratado de Lisboa contestam o que dizem ser uma perda da soberania do país, através do novo sistema de votação no Conselho Europeu. “Não foram dadas boas razões nesta campanha para um voto ‘sim’”, afirmou Declan Ganley, líder do grupo Libertas, citado pela AFP. “Eu espero e acredito que o povo irlandês vai votar ‘não’ e que o trabalho vai poder começar na construção de uma nova visão da Europa para todos os seus 490 milhões de cidadãos”.

Na quarta-feira, os parlamentos da Finlândia e da Estónia votaram favoravelmente o Tratado de Lisboa, elevando para 17 o número de estados-membros a terem ratificado o documento.

O primeiro-ministro português tinha prometido em campanha eleitoral levar a referendo o anterior Tratado que estabelecia uma Constituição para a Europa, mas após negociações em Bruxelas os líderes europeus comprometeram-se a aprovar o novo documento através da via parlamentar.

Em 2005, França e a Holanda votaram contra o Tratado que estabelecia uma Constituição para a Europa, encetando um processo que deu origem ao Tratado de Lisboa.