O director do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica, Alberto Castro, acusou, esta segunda-feira, a ANA – Aeroportos de Portugal de promover um “jogo desequilibrado” ao não apresentar os dados de um estudo encomendado pela gestora aeroportuária, noticiado na penúltima edição do semanário “Expresso”. O estudo questiona a viabilidade de uma concessão a gestores privados do Aeroporto Francisco Sá Carneiro e conclui que a infra-estrutura dá prejuízos avultados.

Num encontro com os jornalistas, o professor da Universidade Católica criticou a “opacidade” da ANA por não disponibilizar os cálculos que realizou para chegar àquelas conclusões e queixou-se da dificuldade de rebater números “que provêm de uma fonte interessada no processo”. “Há aqui uma postura ética que seria desejável ver alterada, pois é preocupante esta atitude do não fornecimento dos dados”, lamentou Alberto Castro.

O aparecimento deste estudo gerou várias dúvidas, sobretudo num momento em que a ANA se prepara para ser privatizada. Para Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, é “lamentável” que a gestora pública apresente conclusões negativas sobre o aeroporto Sá Carneiro, mas, ao mesmo tempo, crie dificuldades a uma concessão individual da infra-estrutura.

“Se o estudo fosse verdadeiro e as contas fossem uma tragédia, se a ANA fosse privatizada sem o aeroporto Sá Carneiro seria valorizada, logo o Estado ficava a ganhar”, afirmou. Ao contrário, se a ANA for privatizada com o Sá Carneiro, a empresa gestora teria interesse em “aumentar os preços e diminuir o tráfego ou fechá-lo porque dá prejuízo e com o TGV mandavam-nos ir a Alcochete apanhar o avião” – soluções que em nada beneficiariam a região Norte, sustentou Moreira.

Alberto Castro questiona ainda o porquê de a ANA não ter mostrado antes os dados que apontam para o prejuízo do Sá Carneiro, pois “nesse caso o aeroporto do Porto tem sido subsidiado pelo de Lisboa”, questionou.

O presidente da ACP acredita que o aeroporto “é um bom negócio”, apesar da recusa da ANA em fornecer números. “Tivemos de olhar para aeroportos similares como o de Malta, pois da ANA nem a planta do Sá Carneiro obtivemos”, lamentou Rui Moreira.

Separação da ANA gera consenso no Norte

Alberto Castro corroborou do ponto de vista expresso recentemente pelo presidente da ACP de que a transferência da gestão da ANA de um “monopólio do Estado para um privado gera graves inconvenientes” e que o mais vantajoso para o Sá Carneiro é a separação da ANA, visto que “todas as atenções estão agora concentradas no novo aeroporto de Lisboa”, facto que gerou o consenso entre a ACP, Junta Metropolitana do Porto, Associação Empresarial do Porto e até entre a Associação Empresarial do Minho.

Para a ACP, a componente do desenvolvimento regional é um dos factores mais importantes e o interesse pela concessão demonstrado pela Sonae/Soares da Costa tem sido bem acolhido. Segundo Rui Moreira, Belmiro de Azevedo afirmou ter realizado estudos que apontavam para a “viabilidade” da gestão do aeroporto e a existência de interesse por parte de vários parceiros internacionais e a Sonae já terá mesmo feito uma “oferta preliminar ao Governo”.

Este é um dos casos em que o interesse privado apareceu antes da existência de um concurso público. Para Rui Moreira, o interesse dos privados deve-se à condição imposta pelo primeiro-ministro para uma eventual concessão independente do Sá Carneiro: o aparecimento de “parceiros credíveis” interessados na gestão. Rui Moreira admitiu ainda que a ACP estaria “disponível a ter uma pequena posição na gestão do aeroporto, nem que fosse de transição”, adiantando que Belmiro de Azevedo já tinha feito essa proposta à Associação Comercial.

A “Portofobia” de Mário Lino

Rui Moreira mostrou-se ainda crítico em relação ao ministro das Obras Públicas, Mário Lino, acusando-o de tentar ganhar popularidade em Lisboa com uma atitude de “Portofobia”, depois de este ter sugerido que se o Sá Carneiro saísse da tutela da ANA “fecharia no dia seguinte”. “Se o ministro acha que a ‘Portofobia’ lhe pode dar jeito, politicamente pode ter mais danos do que imagina, visto que o aeroporto Sá Carneiro não serve apenas o Porto mas toda a região Norte”.

Para o presidente da ACP, a preocupação mais importante é “evitar que o concurso público da ANA se inicie antes da concessão do Sá Carneiro”. Defendeu que o melhor modelo aeroportuário teria sido manter a Portela e ir construindo o novo aeroporto à medida que fosse necessário. Nesse caso, a gestão podia ser feita pela ANA, disse. Com este “projecto megalómano este jogo desenrola-se em Lisboa, mas, se correr mal, são os aeroportos do Porto e Faro que vão sofrer as consequências”.