A posição que o Porto, a nível económico, ocupa enquanto elemento central da Área Metropolitana (AMP) pode estar a desaparecer, segundo o estudo “A Base Económica do Porto e o Emprego” desenvolvido pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) a pedido da Câmara Municipal da cidade. A investigação teve como objectivo “aprofundar o conhecimento relativo à evolução recente do emprego e da base económica do Porto e do espaço envolvente”.

Segundo o documento da FEP [PDF], esta situação tem sido agravada pela perda de população residente e pela quebra no emprego privado.

“Mesmo nos casos em que a evolução da actividade económica e do emprego no Porto é mais favorável, aquilo que está em causa é a manutenção da posição da cidade no âmbito da AMP (e do país) e já não o seu reforço”, indicam os autores do documento na sua conclusão. “Verifica-se que o Porto, mesmo quando cresce, cresce menos do que a sua região”.

Os investigadores da FEP acrescentam que “se tal ainda não é suficiente para que o concelho perca o lugar central que ocupa na AMP em termos de emprego, a verdade é que tal centralidade é cada vez menor e cada vez mais disputada por outros concelhos da região”.

Perda de população residente e queda do emprego privado

O estudo, que apenas analisou o período entre 1991 e 2005 por falta de dados mais actuais do Instituto do Emprego e Formação Profissional e do Instituto Nacional de Estatística, destaca duas conclusões, particularmente a perda de população residente e de emprego privado no Porto.

Os investigadores apontam para o comportamento do mercado imobiliário, que devido à subida dos preços tem afastado “da cidade residentes potenciais com menor poder de compra”, como os trabalhadores com salários baixos e os jovens. Por outro lado, a análise da FEP justifica o decréscimo no emprego com a “transformação que se verificou no aparelho produtivo da cidade”, com o “declínio da actividade industrial”.

Presente na sessão de apresentação do estudo no Teatro Municipal Rivoli esteve o presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP), Rui Rio, que afirmou não ter ficado surpreendido com as conclusões do documento. “É a evolução natural e normal da cidade do Porto”, disse o autarca, salientando que a maior parte do período abordado não cobre os seus mandatos.

“A centralidade do Porto é cada vez menor e cada vez mais disputada por outros concelhos da região”

Para Rio, a perda de população (que na sua maioria se movimentou para os concelhos em torno do Porto) é resultado da evolução das áreas envolventes da cidade, que resolveu o excesso de concentração que o Porto detinha, à semelhança de Lisboa.

Captação de população dos movimentos pendulares para a Baixa

Rui Rio explicou que deve existir uma estratégia de captação de população, “mas com conta, peso e medida”, principalmente no que toca a repovoar a Baixa da cidade, dentro do âmbito da reabilitação desta. Segundo o presidente da CMP, deve existir uma captação de pessoas aos chamados movimentos pendulares, casos de população que vive nos concelhos dos arredores do Porto, mas trabalha na cidade. “Trazer população só por trazer não é objectivo”, afirmou o autarca, realçando que não quer entrar em disputas com os concelhos circundantes.

Capital cultural por aproveitar

Os autores do estudo também ressaltam que o capital cultural da cidade é capaz de, “em articulação com o seu potencial de produção de capital humano, funcionar como um factor de atracção de população e emprego para a cidade”. Porém, a conclusão que os investigadores tiram é a de que “este potencial não está a ser plenamente aproveitado” e recomendam que seja assegurado que “os investimentos realizados no passado concretizam o seu potencial de benefícios”, para que essas apostas não se revelem “improdutivas”.

“O Porto é (tem condições para ser) um pólo de serviços especializados que se apoia essencialmente na qualificação dos seus recursos humanos e na capacidade de formação que possui. O desenvolvimento de uma lógica de complementaridade com os restantes concelhos da AMP é essencial para assegurar a afirmação da cidade no seu contexto regional, mas também para afirmar a AMP no contexto nacional”, termina o estudo.