A Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES) divulgou esta segunda-feira um documento [em PDF] crítico do Governo, acusando-o de estar mais preocupado com as eleições de 2009 (europeias, legislativas e autárquicas) do que com a administração do país e de retroceder nos seus objectivos.

“O Governo, após três anos de esforços de estabilização orçamental e de várias reformas que exigiram coragem política, dá agora sinais de preocupação com o calendário eleitoral em detrimento da administração do país”. O texto, que incide especialmente sobre a educação, a saúde e a legislação laboral, refere como exemplos “a declaração do fim da crise orçamental, a ênfase nos investimentos públicos de grande dimensão, a cedência à agitação social e as recentes baixas de impostos”.

A SEDES classifica, porém, as reformas do Governo como “corajosas e indispensáveis”, embora considere que “terá havido, nalguns casos, inabilidade política”, e critica o facto de estar agora a recuar nas reformas. “A inversão do ciclo de boa-vontade face ao Governo, experimentado na primeira parte do mandato, poderá ser irreversível”, lê-se no texto.

PS acusa SEDES de se contradizer

Vitalino Canas, porta-voz do PS, afirmou ao JPN que “o PS nunca deixou de fazer o que está no programa, nem vai deixar de o fazer para pensar em eleições, embora esteja atento às circunstâncias de crise”. O porta-voz do partido no Governo referiu ainda que a SEDES, anteriormente, tinha afirmado que o PS não se preocupava com as questões sociais “e agora é a questão onde é mais sensível, o que é uma contradição do que vinham a dizer”.

SEDES procurou contribuir para discussão do debate sobre Estado da Nação

Pedro Pita Barros, um dos membros do conselho de coordenação da SEDES, explicou ao JPN que este documento “pretende contribuir para uma discussão sobre os problemas do país e para uma intervenção cívica marcada a longo prazo”.

Apesar de afirmar que a SEDES “procura ter tomadas de posição com alguma regularidade, independentemente de acontecimentos que existam de outra natureza”, Pita Barros esclareceu que “sabendo-se que iria haver um debate do Estado da Nação [na próxima quinta-feira] tentou-se fazer com que isso não coincidisse com o dia, mas que fosse feito antecipadamente de forma a permitir também contribuir para essa discussão”.

A SEDES, que já tinha divulgado um documento em Fevereiro a alertar para um “mal-estar difuso” na sociedade portuguesa, volta a criticar o Governo de José Sócrates e chama a atenção para o facto de “no maior partido da oposição” se ter iniciado “um ciclo de estabilidade” que pode levar o PSD a tornar-se uma alternativa credível.

“Estamos preparados para algumas pessoas lerem o que não está lá”

O documento é o primeiro desde que Luís Campos e Cunha assumiu o cargo de presidente do conselho coordenador da SEDES. Contudo, Pedro Pita Barros esclarece que o texto foi feito em conjunto e não apenas pelo presidente, rejeitando qualquer crítica quanto à legitimidade do artigo. Pita Barros defende que “a alternativa seria não fazer o documento ou limitar a capacidade de intervenção cívica do presidente, o que não parece razoável”.

“Eu julgo que o documento em si mesmo, parece-me equilibrado, lança o alerta para uma questão importante, mas vai ter muitas leituras, pessoas diferentes vão lê-lo de formas diferentes. Também julgo que estaremos todos preparados para algumas pessoas lerem o que não está lá, mas se a alternativa é não fazer também não é uma boa alternativa”, justifica.