Há 175 anos, no dia 9 de Julho, D. Pedro IV, duque de Bragança, assinava, nos Paços Reais do Porto, a criação da Real Biblioteca Pública. O país atravessava várias lutas liberais e mudanças políticas, mas, mesmo assim, D. Pedro mandou publicar um decreto na “Chronica Constitucional do Porto” onde dava conta da implementação da biblioteca: “Será estabelecida nesta mui antiga e mui leal cidade do Porto, uma livraria com o título de Real Bibliotheca Publica da Cidade do Porto”.

A instituição da rua D. João IV, uma das mais antigas bibliotecas públicas municipais de Portugal, está a comemorar o seu 175º aniversário com visitas guiadas, que permitem conhecer não só o espólio da biblioteca mas também todo o trabalho realizado ao qual, normalmente, o público não tem acesso. Durante esta quarta-feira, os visitantes puderam ainda levar três livros à escolha. As comemorações vão prolongar-se até ao final deste ano e em Outubro será realizada uma exposição sobre os “Tesouros da Biblioteca Pública Municipal do Porto”.

Para que o público passa conhecer melhor o património da biblioteca, será ainda lançado o Projecto Graphias para divulgar manuscritos originais de poetas portugueses dos séculos XIX e XX.

20 quilómetros de livros

O Hospício dos Franciscanos, localizado na Cordoaria, acolheu a biblioteca que só abriria ao público em 1841. Mas foi o antigo convento franciscano de Santo António, construído no século XVIII, que, um ano depois, deu lugar a um edifício repleto de histórias da Idade Média e a um sem fim de obras impressas em Portugal.

A biblioteca reunia fundos bibliográficos provenientes de bibliotecas de ordens religiosas e de particulares, bem como um exemplar de toda e qualquer obra impressa em Portugal. Em 1876, D. Luís transformava-a em biblioteca municipal.

Entrando na biblioteca, há mais de 20 quilómetros de livros para percorrer, cerca de um milhão e trezentos mil documentos, divididos por três pisos. As paredes são forradas com azulejos dos séculos XVI e XVIII, provenientes de vários conventos extintos. No centro do claustro existe um jardim com uma fonte central. Janelas voltadas para o centro, corredores repletos de histórias, portas que escondem cultura, tudo num só espaço.

Destacam-se os manuscritos iluminados como a Bíblia do século XIII e o Foral Manuelino do Porto de 1517. Livros como estes estão cuidadosamente guardados e são usados com todo a precaução que lhes é exigido.

Mais de 120 pessoas visitam este espaço diariamente e são mais de mil obras que chegam todos os dias às suas prateleiras.

CD e DVD disponíveis

Num dos pisos está localizada, há 36 anos, a biblioteca sonora. Em 2007 eram mais de 6 mil obras em cassete disponível para cegos, idosos e para escolas. Este ano passou a ser possível encontrar as obras em CD e DVD.

Ao longo dos anos os livros degradam-se, vão perdendo o formato, a cor e as letras perdem o contorno. Sendo esta uma biblioteca patrimonial, a missão é preservar os livros o que é possível através da microfilmagem e da digitalização. Volumes de 15 quilos voltam a ganhar vida através do serviço de restauração. Através do processo de microfilmagem são reproduzidas por ano cerca de 40 mil imagens.

Os mais pequenos também não são esquecidos e o espaço infanto-juvenil, criado em 2001 pelo arquitecto Souto Moura, oferece não só livros como várias actividades. Em colaboração com a biblioteca Almeida Garrett, várias equipas visitam regularmente o serviço de pediatria do Hospital de Santo António no Porto, levando histórias de encantar aos mais novos.