O realizador Manoel de Oliveira pede, acima de tudo, que o deixem continuar a fazer filmes. Essa será, segundo o próprio, a maior prenda que lhe poderão dar, quando se prepara para celebrar o seu centésimo aniversário, uma data que será marcada por homenagens em vários pontos do mundo. “Se me tirarem o cinema morro”, disse o realizador, esta sexta-feira, no Porto.
No sábado, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves inaugura a primeira grande exposição realizada em Portugal sobre o histórico realizador de cinema, numa tentativa de convidar as pessoas a conhecerem a sua obra.
“O homem quando morre dá o último suspiro e aí vai-se a sua identidade, o seu ser”
“Se já houve no estrangeiro, desde os EUA a Cannes, grandes comemorações [do trabalho de Manoel de Oliveira], esta é a primeira grande manifestação em Portugal e, como era justo, é no Porto”, afirmou João Bénard da Costa, director da Cinemateca Portuguesa e um dos comissários da exposição, a par do director do Museu de Serralves, João Fernandes.
O responsável pelo museu classificou a obra de Manoel de Oliveira como “única”, tendo “crescido” ao mesmo tempo que o cinema. João Fernandes ressaltou, porém, que o cineasta “sempre fez o seu cinema”, sem se “resignar” aos novos estilos que iam surgindo.
“Estes filmes passados já quase não são meus”
A exposição vai apresentar diversos excertos de filmes de Manoel de Oliveira em múltiplas formas. Por exemplo, o primeiro filme do realizador portuense, “Douro Faina Fluvial”, vai estar logo na primeira sala, acompanhado de “Berlim: Sinfonia de uma Cidade” de Walter Ruttman e de “O Homem da Câmara de Filmar” de Dziga Vertov.
“Todos estes filmes passados já quase não são meus”, disse Manoel de Oliveira na conferência de imprensa que serviu de apresentação à exposição. O realizador falou também das questões se colocam ao cinema em comparação com o que esta arte era no passado. Há a questão de “se o cinema continua, se continua a ser o que era, dada a evolução técnica que por vezes abafa e atropela tudo o que há de mais puro no trabalho dos artistas”, explicou Manoel de Oliveira, que se mostrou muito agradecido pela exposição.
A exposição Manoel de Oliveira abre este sábado e dura até dia 2 de Novembro deste ano. No âmbito das comemorações dos cem anos do realizador vai ser organizado em Setembro um ciclo de cinema com a totalidade das obras do cineasta e, em Outubro, um seminário sob o lema “Manoel de Oliveira: O moderno paradoxal”. Ainda sem datas marcadas está o simpósio internacional sobre a obra do realizador português.
“Não me assusta a morte”
Durante o período de tempo em que falou aos jornalistas, a morte foi várias vezes tema de conversa, quer por iniciativa da comunicação social, quer da parte do realizador. “A gente morre quando deixa de trabalhar, mesmo muito jovem”, disse o cineasta. “Quando se é despedido, morre-se. Pode ser por uns dias ou mais”.
“O homem quando morre dá o último suspiro e aí vai-se a sua identidade, o seu ser”, referiu, acrescentando que “todos os males da Humanidade estão em cada um”. “Ainda não experimentei”, respondeu Manoel de Oliveira à pergunta sobre como era a sua relação com a morte.
“Não me assusta a morte. Assusta-me mais a vida. Os ódios, o mal, isso só na vida. A morte é um descanso”, afirmou o realizador que diz que, actualmente, só descansa quando está a fazer filmes.