Algumas das palavras de ordem
– “Todos a marchar para os direitos conquistar”
– “Nem mais uma agressão sem reacção”
– “Trans é natural, fobia é fatal”
– “Somos fufas, paneleiros, sem vergonha sem receio”
– “Somos família, sabemos amar, filhos não fazemos, queremos adoptar”
– “Só não vê quem não quer, há mais do que homem e mulher”
Duas ou três centenas, se calhar mais. O número não é o mais importante, as causas que os trazem à rua é que contam. O entusiasmo é geral, a timidez não faz parte da ordem do dia, até porque essa é uma das razões da manifestação: o direito a ser visto e o orgulho em ser diferente. Orgulho será a palavra-chave, ou não fosse esta a Marcha do Orgulho. Subordinada ao tema “Igualdade é essencial, educar é fundamental”, decorreu este sábado a terceira marcha no Porto, a única cidade além de Lisboa a realizar este evento em Portugal.
Balões, cartazes, faixas, bandeiras e cânticos, muitos cânticos. O arranque na Praça da República ainda era sereno. “Sim sim sim, somos assim” ou “LGBT unidade sexual”. Ao chegar a Santa Catarina já se cantava “trabalho sexual unidade sindical”. A música ouvia-se, mas eram poucos os que dançavam. As pessoas que se deparavam com a marcha na rua paravam para ver, sorriam, umas com uns olhares mais suspeitos, outras curiosas, algumas satisfeitas. Um grupo, da associação de Coimbra Não Te Prives, corria por todos os participantes segurando uma faixa multicolor, o símbolo LGBT.
“É assim mesmo, cada um come o que gosta”, dizia um homem à porta de um café na rua de Santa Catarina. Do outro lado gritava-se o mote que era comum a todos os participantes: “homem ou mulher, eu amo quem quiser, ou outra pessoa qualquer”. A Marcha do Orgulho no Porto realiza-se desde 2006 como forma de chamar a atenção para as causas e para os direitos da comunidade LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual, Transgénero), como o direito ao casamento civil, uma educação mais inclusiva e à não discriminação.
“Onde estão? Não se vê os direitos LGBT”, repetia o grupo da frente, encabeçado por alguns dos padrinhos e madrinhas da marcha como a antiga professora universitária Regina Guimarães, o médico Manuel Damas e a editora-chefe de “O Primeiro de Janeiro” Maria José Guedes.
“Portugal não é a preto e branco”
“Não estamos sós, nem nunca vamos estar”, afirmou João Paulo, do PortugalGay, no final da manifestação, já diante da Câmara Municipal do Porto. “Levantem essa faixa. Portugal não é a preto e branco, tem muitas cores”, concluiu o organizador.
Sérgio Vitorino, das Panteras Rosa, explicou ao JPN que o “impacto pretendido é o de obter um efeito de visibilidade para vivências que antes não existiam em Portugal” e de chamar a atenção de um grande número de pessoas “que continua no armário”. O activista refere que as marchas, quer a do Porto como a de Lisboa, despertam consciências e fazem com que muitas pessoas assumam a sua orientação sexual.
Para Sérgio Vitorino é preciso dar visibilidade à discriminação, para além das vivências e dá o exemplo dos menores que são expulsos de casa pelos pais quando assumem a sua orientação. O membro das Panteras Rosa afirma que o seu colectivo recebe pedidos de ajuda de casos deste género pelo menos uma vez por mês.
O tempo ajuda a chamar a atenção
De férias em Portugal vindos de São Paulo estão Fernando, Adriano e Ricardo, três brasileiros que participaram na marcha para “mostrar a força” do movimento. Lembram a importância que a “parada” de São Paulo já conseguiu, numa altura em que alcança o seu 12º ano. “Tivemos 3,5 milhões de pessoas na Avenida Paulista este ano”, diz Fernando, ao que Ricardo acrescenta que é o único evento, para além da passagem do ano, em que a principal artéria da cidade é fechada.
Os brasileiros esclarecem que só ao fim de todo este tempo é que foi possível fazer com que a marcha deixasse de ser vista como uma festa. Passaram a integrar a marcha vários políticos e foi-se capaz de abrir o governo para a discussão sobre as causas LGBT.
Segundo eles, a parada é apenas um de muitos eventos que estão programados ao longo de um mês inteiro de actividades para sensibilizar a população para a discriminação e para outras questões que atingem a comunidade LGBT. “Temos palestras, uma feira cultural, um festival de cinema, entre outros”, afirmam, mas não deixam de ressaltar que, quando começaram, também eram “assim”, poucos.