O festival Optimus Alive! caiu nas bocas do mundo por reunir no seu cartaz dois dinossauros do mundo da música: Bob Dylan e Neil Young. Com a desilusão provocada por Bob Dylan, houve quem temesse que o mesmo se passasse este sábado com Neil Young, mas o que os fãs – e não só – que se deslocaram a Oeiras tiveram o privilégio de assistir não deixou dúvidas quanto ao que esta lenda de 62 anos ainda pode dar à música.
Foram cerca de duas horas de concerto que voaram e que deixaram o público a chorar por mais. Neil Young não só mantém a boa voz como ainda pega na guitarra, acústica ou eléctrica, para fazer os solos com alma. Pelo meio havia ainda um pintor que ilustrava telas com o nome de cada canção, enquanto Neil e os restantes elementos, incluindo a sua mulher Pegy Young, davam um espectáculo inesquecível.
Coube a “Love And Only Love” abrir o apetite para o que se iria passar no próximo par de horas. “Cortez The Killer” e “Rockin’ In The Free World” foram, para além de alguns dos momentos altos da noite, uma agradável surpresa para quem sabia que estas duas preciosidades ainda não tinham sido tocadas nesta digressão europeia de Verão.
O alinhamento contou ainda com “Mother Earth” (um dos mais belos momentos da noite), “The Needle And The Damage Done”, “Heart Of Gold”, a eterna “Old Man”, um cheirinho a country com “Get Back To The Country” e ainda “No Hidden Path” que teve direito a mais de 20 minutos de duração.
Apesar de parecer que o concerto tinha acabado, o público queria mais e não arredou pé. Neil Young voltou ao palco para interpretar “A Day In The Life” dos Beatles e a guitarra do mestre acabou o concerto com todas as cordas partidas. Terminava aquele que foi, provavelmente, o melhor concerto do festival.
Paz, surf e amor
Só quando Neil Young se foi embora é que deu para se perceber o frio cortante da noite. Foi Ben Harper quem se seguiu, com a tarefa dificultada perante um público cujos padrões de satisfação acabavam de ser elevados até ao mais alto nível. O norte-americano, acompanhado pelos Innocent Criminals, deu um espectáculo calmo – por vezes demasiado calmo, quando pegava na sua slide guitar e divagava.
“Burn One Down”, “With My Own To Hands”, “Welcome to the cruel world” e “Diamonds On The Inside”, na companhia de Donavon Frankenreiter, fizeram as delícias dos muitos fãs que ali estavam exclusivamente para ver Ben Harper. “Good Luck (Boa Sorte)”, o mais recente êxito gravado em conjunto com Vanessa da Mata, contou com as vozes do público a fazer a vez da brasileira.
Mas antes dos dois nomes principais deste último dia do Optimus Alive houve paz e amor, para delírio das dezenas de australianos presentes no público. É que o dia parecia dedicado à “boa onda” do Verão e do surf, começando com Braddigan, ex-membro dos Dispatch.
Para os desconhecedores, o autraliano Xavier Rudd foi uma agradável surpresa, sozinho em palco ou acompanhado por um baterista, este verdadeiro homem dos sete instrumentos pousava a guitarra ao colo e começava a dedilhar um slide, enquanto ía soprando na harmónica ou no didjeridoo. No final do concerto, o palco foi ocupado por 15 crianças que formavam a frase “Stand Up For Burrup”, uma iniciativa para defender a fauna australiana.
Na mesma onda reggae/folk chegava Donavon Frankenreiter, companheiro de ondas de Jack Johnson. O músico interpretou mesmo “Free”, sem a prestação do amigo, que se ouve na versão de estúdio.
Terceira edição do festival já está agendada
No palco Metro On Stage, duas “feras” endiabradas fizeram a tenda abanar. A ex-Moloko Róisín Murphy seguida dos The Gossip, liderados por Beth Ditto, encheram este palco secundário, ainda que quem estivesse a tocar ali ao lado fosse uma lenda viva chamada Neil Young. Ambas souberam agradecer a preferência e provocaram uma explosão de energia que levou a uma controlada invasão de palco pelo púbico no final.
Foi ainda anunciado por Álvaro Covões, da organização, que a terceira edição do Optimus Alive será nos dias 9, 10 e 11 de Julho do próximo ano. Apesar de contar com apenas duas edições, o Alive tornou-se num dos festivais de referência do nosso país: cerca de 100 mil pessoas passaram pelo festival, incluindo muitos estrangeiros.